Composição e improvisação: um manual

Tendo conquistado o Pulitzer Prize for Music, Henry Threadgill coloca-se agora de fora num álbum em que é consagrada uma linhagem para a sua música.

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Mais uma valiosa peça no puzzle da obra de Threadgill

Henry Threadgill, saxofonista e compositor, dedicou uma carreira de mais de quatro décadas a um sistema que visa integrar composição e improvisação colectiva. A elegância, sofisticação e rigor valeram-lhe, no início do ano, o Pulitzer Prize for Music, atribuído ao seu anterior e extraordinário álbum In for a Penny, In for a Pound. Com 72 anos, Threadgill optou neste novo registo por ficar de fora, não tocando o seu habitual saxofone alto, e assumindo o papel de condutor musical. Mas, se a estrela de Old Locks and Irregular Verbs, é o próprio universo musical por si criado, ligando de forma orgânica composição e improvisação, a ausência da voz vital do sax alto de Threadgill faz toda a diferença. E nem a excelência da prestação dos músicos que compôem o notável ensemble Double Up, com Jason Moran e David Virelles no piano, Román Filiú e Curtis Macdonald no sax alto, Christopher Hoffman no violoncelo, Jose Davila na tuba e Craig Weinrib na bateria, o faz esquecer. Assiste-se assim, por um lado, ao atenuar da componente solística - Threadgill é um dos mais extraordinários improvisadores vivos, como o demonstrou primeiro à frente do trio Air e mais tarde em projectos gravados em nome próprio, e quando improvisava a sua voz iluminava-se surgindo magnética num diferente plano de todos os outros músicos.

Por outro lado, e devido à ausência do saxofonista, o foco no elemento composicional é maior e permite-nos identificar todos os elementos que fazem parte do seu sistema musical, quase como se Threadgill procurasse criar um manual (espiritual) para a integração de composição e improvisação, consagrando assim uma linhagem para a sua música. É mais uma valiosa peça no puzzle perfeito da obra de Threadgill.

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