Como o pequeno Gabo de Aracataca veio a tornar-se Gabriel García Márquez

Gabo: A Magia da Realidade estreia-se esta quarta-feira na RTP2 e percorre a vida do escritor através do testemunho de amigos e familiares, mas também de figuras como Bill Clinton ou o ex-presidente colombiano César Gaviria.

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Gabo: A magia da realidade, de Justin Webster DR

Gabriel García Márquez cresceu a ouvir as histórias dos avós maternos: dos contos de fantasia da avó aos relatos militares do avô, passando pelas memórias sobre o romance dos seus pais. Não admira, pois, que a infância passada na pequena cidade de Aracataca, no norte da Colômbia, servisse de impulso à dança entre a realidade e a imaginação que viriam a tornar célebres obras como Cem Anos de Solidão e O Amor em Tempos de Cólera. O documentário Gabo: A Magia da Realidade, da autoria de Justin Webster, conta ao longo de 90 minutos a história da vida e obra de Gabriel García Márquez e o percurso que este trilhou até vencer o Prémio Nobel da Literatura em 1982, o prémio que viria a significar um ponto de viragem no reconhecimento mundial da sua obra. O filme estreia-se esta quarta-feira, às 23h, na RTP2.

Lançado originalmente em 2015, o documentário parte de um conjunto de testemunhos de figuras como os ex-presidentes dos Estados Unidos e da Colômbia Bill Clinton e César Gaviria, os escritores Juan Gabriel Vásquez e Plinio Apuleyo Mendoza, os jornalistas Enrique Santos, María Jimena Duzán e Xavi Ayén, a biógrafa Gerald Martin, a agente literária Carmen Balcells e os irmãos do escritor, Aida e Jaime García Márquez. O filme, que apesar de ter sido apresentado em vários festivais de cinema não teve estreia nos cinemas portugueses, desmistifica o homem por trás do escritor e mostra a forma como Gabo se dividia entre o jornalismo, a escrita e o activismo social e político.

O plano original era formar-se em Direito, mas Gabriel García Márquez iniciou-se profissionalmente como jornalista em Cartagena das Índias e depois em Barranquilha. Trabalhou como grande repórter e foi correspondente na Europa durante os anos 1950, vindo mais tarde a criar a Fundação do Novo Jornalismo Latino-Americano. Nesse mesmo período, dedicou-se à leitura de diversos autores internacionais, como Ernest Hemingway e William Faulkner, duas das suas grandes inspirações. Foi a fusão entre a objectividade jornalística e as histórias dos avós que levaram à criação do realismo mágico como um estilo que viria a revolucionar a literatura latino-americana e mundial.

Gabo viveu os tempos de instabilidade política da América Latina nas décadas de 1970 e 1980 e teve um papel determinante – do qual pouco se conhece – nas negociações entre o líder cubano Fidel Castro e o então presidente norte-americano Bill Clinton. Manteve, aliás, uma polémica amizade com Fidel Castro mesmo em plena Guerra Fria. “A única arma que disparei em toda a minha vida foi uma máquina de escrever”, atira Gabo no trailer do documentário. Além de recorrer a figuras que contactaram directamente com o escritor, o documentário confia nos depoimentos do próprio García Márquez, que aparece em entrevistas gravadas ao longo dos anos sempre com o humor que o caracterizava.

Gabo: A Magia da Realidade permite ao espectador assistir aos altos e baixos que construíram o génio literário que deixou marca na literatura mundial. Nos últimos anos da sua vida, Gabriel García Márquez partiu das suas experiências para publicar o livro de memórias Viver para contá-la. Após ser diagnosticado com cancro no final dos anos 1990 e sofrer de demência, o escritor viria a morrer em 2014, aos 87 anos

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