Cientistas explicam mudança de cor em quadros de Van Gogh

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“Bank of the Seine” (1887) foi um dos quadros analisados Museu Van Gogh

O amarelo intenso dos quadros de Van Gogh já não é tão brilhante como quando o artista os pintou e ao longo do tempo tem tendência a ficar castanho. Esta preocupante degradação, que afecta outras cores e artistas dos finais do século XIX, deve-se a uma complexa reacção química, descoberta por um grupo internacional de cientistas, de vários laboratórios.

Vários testes com um ultra sensível raio X microscópico revelaram uma reacção química desencadeada pela luz do Sol, que causa o desaparecimento do amarelo, informa o estudo publicado, na segunda-feira nos EUA, no jornal Analytical Chemistry.

Para melhor entender o processo, o grupo de cientistas examinou ainda tubos de tinta conservados desde a época do pintor holandês.

Os pesquisadores envelheceram os pigmentos artificialmente e verificaram que o escurecimento da camada superior está relacionado com uma redução do crómio na tinta. Assim, a reacção dá-se numa camada muito fina, onde a pintura coincide com o verniz da superfície. Apesar de a luz solar ser capaz de penetrar apenas alguns micrómetros na tinta, é o suficiente para originar uma reacção que transforma o amarelo em pigmentos castanhos, alterando a composição original da peça.

"Este tipo de pesquisa de vanguarda é crucial para entendermos como as pinturas envelhecem e como devem ser conservadas para as futuras gerações", disse à AFP Ella Hendriks, do Museu Van Gogh, em Amesterdão.

“O estudo terá continuidade e queremos entender quais são as condições que favorecem a redução do crómio e se há algo que possamos fazer para reverter os pigmentos para o seu estado original nos quadros em que esse processo já está em curso”, disse à AFP Koen Janssens, da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, que dirigiu o estudo.

Os estudos realizados em Grenoble, em França, mostraram uma redução do crómio "especialmente notável na presença de compostos químicos que contêm bário e sulfato".

Esta observação levou os cientistas a acreditar que "a técnica de Van Gogh de mesclar pintura branca e amarela pode ser a causa do escurecimento de seus amarelos", revela o estudo.

Os cientistas testaram a sua investigação em dois quadros de Van Gogh, “Field with flowers near Arles” (1888) e “Bank of the Seine” (1887), ambos expostos no Museu Van Gogh, em Amesterdão.

Van Gogh terá começado a usar cores mais brilhantes e intensas depois de se ter mudado para França, onde conheceu outros artistas como Paul Gauguin, com quem partilhou ideias.

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