Chamava-se Pierre Henry e dizia-se o "pai da música moderna"

Um dos pioneiros da música concreta, aluno de Maessian, colaborador de Pierre Schaeffer ou de Maurice Béjart, Pierre Henry deixou influência nas vanguardas musicais do século XX e foi nome relevante na emergência da música electrónica. Morreu em Paris, aos 89 anos.

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Pierre Henry fotografado em 2002 na sua casa em Paris Raphael GAILLARDE/Gamma-Rapho via Getty Images

Era um dos pioneiros da música concreta e foi apelidado de “padrinho do tecno” pela forma a como influenciou os criadores da electrónica. Ele próprio, pouco dado à modéstia, classificou-se como “pai da música moderna”. Nascido em Paris em 1927, Pierre Henry foi aluno de Nadia Boulanger e de Olivier Messiaen e co-fundador do Grupo de Pesquisa de Música Concreta (GRMC) com Pierre Schaeffer. Colaborou com os coreógrafos Maurice Béjart ou Merce Cunningham, mas também com os grupos rock Spooky Tooth e Violent Femmes. Foi remisturado por Fatboy Slim e deixa marca na cultura popular: Psyché rock, de 1967, o tema que Slim remisturou, serviu como base do genérico da série de animação Futurama, de Matt Groening. Pierre Henry morreu na madrugada desta quarta-feira, 5 de Julho, aos 89 anos.

A notícia foi dada à AFP pela assistente de Henry, Isabelle Warnier. Em reacção à sua morte, Jean-Michel Jarre, um dos seus maiores admiradores, afirmou que Henry “não era apenas um músico e um inovador, era um poeta": "Toda a sua vida tentou criar uma fusão entre experimentação e poesia." Jarre espera que “a França lhe preste a homenagem que ele merece”.

Em entrevista ao Le Figaro em 2007, Pierre Henry definiu-se como “um compositor clássico que utiliza os meios técnicos deste século”. Essa ideia guiou-o desde o início. O músico que decidiu tornar-se compositor quando ouviu pela primeira vez a Missa em Si Menor de Bach começou por estudar piano e percussão, mas a atracção pelas novas potencialidades oferecidas pela música gravada foi determinante no seu percurso posterior. Em 1950 cria Sinfonia Para um Homem Só, uma das obras fundadoras da música concreta, ou seja, criada a partir de sons pré-gravados ou gerados electronicamente.

A peça surge no contexto do GRMC criado na década de 1940 no seio da RTF, a rádio e televisão pública francesa. Dois anos depois, assinaria Astrologie ou le miroir de la vie, banda-sonora de um filme de Jean Grémillon que é considerada a primeira peça de música concreta utilizada no cinema com distribuição comercial. Se em início de percurso excluía a electrónica da sua noção de música concreta, não demorou a conjugar as duas realidades, começando a referir-se à sua obra como música electroacústica.

Entre as colaborações com coreógrafos como Merce Cunningham, George Balanchine ou Maurice Béjart, para quem elaborou uma das suas peças mais famosas, Missa Para o Tempo Presente, estreada no Festival de Avignon em 1967, ou as instalações para os artistas plásticos Yves Klein ou Georges Mathieu, aproximou-se da música popular urbana com a supracitada Psyché rock (parte do alinhamento de Missa para o Tempo Presente e inspirado em Louie Louie, dos Kingsmen) ou com o trabalho com os Spooky Tooth em Cerimony, álbum de 1969 da banda britânica de rock progressivo – em 2000, participaria em Freak Magnet, álbum dos norte-americanos Violent Femmes.

Em 2005, Pierre Henry participou na Festa da Música do Centro Cultural de Belém, onde apresentou uma nova versão de Décima Sinfonia Remix, originalmente criada em 1979 e criada a partir de excertos das nove sinfonias de Beethoven.

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