O que a Câmara de Lisboa, a EDP e Serralves compraram na ARCO

Autarquia fez investimento de cem mil euros. Galeristas fazem o balanço deste feira de arte contemporânea de Lisboa que teve dez mil visitantes.

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O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (ao meio à esquerda), com Carlos Urroz, director da feira (à direita) LUSA/Tiago Petinga
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Peça de Julião Sarmento Reuters/RAFAEL MARCHANTE
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Peça da artista espanhola Bene Bergado Reuters/RAFAEL MARCHANTE
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Peça da artista colombiana Natalia Castaneda Reuters/RAFAEL MARCHANTE
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Peça de Thomas Schütte Nuno Ferreira Santos

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) comprou 21 obras de 14 artistas na ARCOlisboa, num investimento de cerca de cem mil euros, que duplicou o valor do ano passado. Já as fundações EDP e Serralves, que também fizeram compras, não revelaram o valor das suas aquisições.

O curador Sérgio Mah, que fez parte da comissão que escolheu as peças na feira de arte contemporânea para a CML, disse ao PÚBLICO que este ano foi feito um conjunto de aquisições mais equilibrado, porque se conseguiu comprar muito mais cedo, logo no início da ARCOlisboa, que este domingo terminou na Cordoaria Nacional. “Conseguimos cruzar bastantes coisas: várias galerias portuguesas, algumas não contempladas no ano passado, galeristas estrangeiros com artistas portugueses e artistas emergentes e de média carreira com alguns consagrados", disse.

Da lista de compras fazem parte 14 galerias, uma das quais estrangeira, com trabalhos de Paulo Nozolino (Galeria Quadrado Azul), Luísa Cunha (Miguel Nabinho), João Queiroz (Vera Cortês), Ana Manso (Pedro Cera), Paulo Brighenti (Pedro Oliveira), Susanne Themlitz (Ángeles Baños), Pedro Calhau (Módulo), José Loureiro (Fonseca Macedo), Fernanda Fragateiro (Baginski), João Marçal (Graça Brandão), Alexandre Conefrey (Belo-Galsterer), António Júlio Duarte (Pedro Alfacinha), Sara Chang Yan (Madragoa) e Ângela Ferreira (Filomena Soares).

Num comunicado de imprensa divulgado antes do encerramento, a ARCO fazia já um “balanço positivo” da sua segunda edição em Lisboa, em que terá recebido “cerca de dez mil visitantes” (menos do que os 13 mil de 2016).

O comunicado identificava as compras feitas por mais três instituições, desde a Fundação ARCO à Fundação EDP, passando pela Fundação Serralves.

Miguel Coutinho, director da Fundação EDP, disse ao PÚBLICO que a EDP realizou uma dezena de compras para a sua colecção, esclarecendo que as aquisições foram propostas pelo director do MAAT, Pedro Gadanho, e avaliadas pelo conselho de administração da fundação, conforme as regras da casa. O director não revelou o valor das aquisições.

Em várias galerias portuguesas, a EDP comprou obras de Ana Vidigal (Galeria Baginski), Gil Heitor Cortesão (Pedro Cera), Patrícia Almeida (Pedro Oliveira) Marco Pires e Vasco Barata (Fonseca Macedo), Carlos Roque e Miguel Palma (Presença).

Segundo o comunicado da Arco, a Fundação de Serralves comprou trabalhos de Yonamine (Galeria Cristina Guerra ), Gerardo Burmester (Fernando Santos), Pedro Barateiro (Filomena Soares) e Renato Leotta (Madragoa).

Já a Fundação ARCO adquiriu uma obra do artista Pedro Neves Marques, da galeria italiana Umberto di Marino, que passará a integrar a Colecção ARCO, no CA2M de Madrid.

Com 58 galerias, segundo os organizadores,  a ARCOlisboa destacou-se “pelo aumento do volume de vendas”, “apesar de não haver ainda dados oficiais”.

Uma nova secção

Na secção Opening, dedicada às galerias mais novas, que este ano existiu pela primeira vez e teve comissariado de João Laia, uma galeria como a mexicana José García não estava tão optimista. “Para nós [a feira] não foi tão boa, porque o público em geral fica muito nas galerias locais. Talvez os nossos formatos e materiais não sejam os mais adequados”, explicou Ana Castella, directora da galeria, num stand que apresentava obras feitas com peles de animais ou gravatas Hermès.

Castella, que destacou o comissariado de João Laia desta secção com oito galerias, afirmou que fez novos contactos com profissionais do meio, “que talvez se possam desenvolver em coisas futuras para a galeria”. Venderam apenas uma peça da artista dinamarquesa Nina Beier, antes de a feira começar, para um coleccionador que já conheciam.

Já a lisboeta Galeria Madragoa, com um ano de vida, vendeu cinco peças, entre as quais duas para a CML e uma para a EDP. “Para nós com estas vendas foi bom. E houve contactos também muito bons”, afirma o italiano Matteo Consonni, director da Madragoa. “É muito importante que o Opening traga mais galerias jovens do estrangeiro com um programa radical.”

Tal como outros colegas, Matteo Consonni é da opinião de que a secção Opening não estava bem sinalizada e de que as pessoas tiveram alguma dificuldade em encontrá-la.

Mas mais relevante do que a feira correr bem para a Madragoa, o galerista defende que “é importante que corra bem para galerias estrangeiras, como a José García, que já fazem a feira de Basileia, por exemplo”.

A Hawaii-Lisbon, uma galeria que se instalou há sete meses na Parede, diz que se tudo o que está prometido acontecer será muito positivo: “Tenho o stand quase todo vendido. Para já são só reservas, mas vão-se concretizar!” Na sua galeria, que tem seis artistas, apenas um, Margarida Gouveia, é português. No stand, destacam-se uma tela feita de toalha turca ou esculturas construídas com peças de canalização.

No espaço principal da Cordoaria, entre as galerias brasileiras, havia quem estivesse contente e quem ainda esperasse boas notícias. Anita Schwartz, que veio pela primeira vez do Rio de Janeiro, com algumas peças na casa dos 200 mil euros e um stand histórico, estava à espera de concretizar uma venda importante para a participação poder ser positiva. Na Galeria Vermelho, de São Paulo, destacava-se o interesse pela obra de Cinthia Marcelle, que acabou de receber uma menção honrosa na Bienal de Veneza. “Foi bom. Fizemos bons contactos e colocámos pontualmente obras em boas colecções”, diz Marina Buendia, directora da galeria.

Na francesa Pietro Sparta, que trouxe uma das maiores obras da feira, uma escultura em verga do italiano Mario Merz com quatro metros de altura, Pascale Petit achava que este ano talvez houvesse menos público, porque o programa paralelo era muito intenso. A feira correu “muito bem”, “melhor do que no ano passado”, por causa dos “contactos com coleccionadores da Bélgica, Suíça e França” Destacou as vendas de uma escultura de Thomas Schütte, um consagrado, e de uma instalação de parede de Alice Bidault, uma artista de 23 anos.

Na espanhola Leandro Navarro, não se tinham vendido duas pequenas Vieiras da Silva, que rondavam os 60 mil euros, mas Iñigo Navarro Valero estava contente porque vendeu melhor do que no ano passado. “As pessoas já conheciam e voltaram. Perguntavam pela Vieira da Silva, mas o interesse estava mais nas coisas internacionais, em Miró e Tapiès.”

No comunicado de domingo, a ARCO revelou que já se está a preparar para uma nova edição em 2018.

Notícia actualizada às 20h35 com depoimentos de galeristas. Dia 22 foi corrigido o nome da artista Margarida Gouveia, anteriormente identificada como Mariana.

 

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