Björk: o casamento entre música e realidade virtual

A exposição Björk Digital decorre entre 1 de Setembro e 23 de Outubro e celebra o repertório visual da cantora islandesa.

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Björk tem desenvolvido, a par da música, um rico trabalho visual Rui Gaudêncio

Ao longo de mais de 20 anos de carreira, o trabalho de Björk nunca se confinou apenas à música – a identidade visual que acompanhava o som sempre foi pensada ao mínimo detalhe. O vasto e experimental repertório visual da cantora islandesa integra, agora, a exposição Björk Digital, que acontece de 1 de Setembro a 23 de Outubro, na Somerset House, em Londres.

A exposição vai mostrar trabalhos que reflectem a inexistência de fronteiras entre a arte e a tecnologia na perspectiva da artista. Além de incluir obras nunca antes vistas, Björk Digital pretende convidar o público a interagir com os trabalhos através da realidade virtual. É exemplo disso o videoclip de Stonemilker, em que canta numa praia remota da Islândia. A ideia é que os visitantes coloquem headsets de 360º para poderem emergir-se naquilo que estão a ver.

Também será exibido Black Lake, o filme imersivo encomendado pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA, na sigla inglesa) para a retrospectiva da carreira da cantora que aconteceu no ano passado. Realizado para a música do mesmo nome do álbum Vulnicura, recentemente nomeado para um Grammy, o vídeo mostra Björk a deslocar-se por entre um cenário de rocha negra vulcânica na Islândia.

Um dos destaques da exposição será Mouth Mantra, uma peça de realidade virtual criada a partir da captação de imagens do interior da boca da cantora enquanto esta canta a música em questão, permitindo ao visitante testemunhar o movimento em 360º.

“É um espectáculo que junta performance, exposição, filme e instalação digital e cruza música, artes visuais, design e tecnologia”, disse Jonathan Reekie, director da Somerset House, ao jornal britânico The Guardian. Reekie realça a forma como Björk desafia a categorização das expressões artísticas. “É raro ver um artista tão disposto a abraçar as novas tecnologias, nomeadamente a realidade virtual, no seu trabalho.” A exposição será “completamente diferente” da retrospectiva realizada pelo MoMA, que incluía instrumentos, adereços de palco e letras das canções da cantora.

A exposição terá o seu ponto alto a 21 de Setembro, dia em que Björk subirá ao palco do Royal Albert Hall. É o único concerto do ano no Reino Unido e o primeiro desde que ali esteve em digressão com o álbum Biophilia, em 2013.

Björk está envolvida no processo de criação e curadoria “até ao mais pequeno detalhe” e já foram organizadas em Sidney, Austrália, e Tóquio, Japão, pequenas amostras do que será a exposição em Londres. Em Sidney, Björk disse ao The Guardian que a intimidade da realidade virtual é a sua grande vantagem. “Com o passar dos anos, apercebo-me cada vez mais da forma especial como apreciamos a música. Estando sozinhos ou num festival com milhares de pessoas, não é algo intelectual, é impulsivo. A realidade virtual é a continuação natural disso, tem muita intimidade. Como músico, estabelecer essa intimidade é, de facto, importante.”

É habitual para Björk utilizar as novas tecnologias para acrescentar novas dimensões ao seu trabalho. Em 2011, a propósito do lançamento do álbum Biophilia, foi criada uma aplicação onde figurava uma galáxia tridimensional das músicas interactiva, com conteúdos multimédia, instrumentos personalizados, jogos e ensaios escritos.

Reekie afirmou que esta é a altura certa para uma exposição de Björk, não apenas pela popularidade contínua da cantora mas pela forma “como ultrapassa todas estas barreiras, que é a epítome do modo de pensamento e trabalho dos artistas contemporâneos”.

Alguns dos videoclips de Björk, realizados por nomes como Spike Jonze, Michael Gondry e Andrew Thomas Huang, estarão também em exibição. O público que não puder estar presente pode ficar descansado, porque a cantora garantiu, no mês passado, que está a ser produzida uma versão em realidade virtual do álbum Vulnicura.

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