Babilónia, uma necessidade de melómano

André Azevedo C. Gomes fundou a Babilónia por querer ouvir discos a que não tinha acesso. Changri-Lá foi o primeiro. Edita exclusivamente em vinil. O desejo final é que “toda a gente tenha a música disponível”.

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Não há grandes segredos nesta história. André Azevedo C. Gomes precisava de uma editora como a Babilónia e, dado que ela não existia, tratou de a fundar. Ele explica: “A Babilónia nasce do facto de um coleccionador e amante de música como eu sou ter dificuldade em arranjar a preços acessíveis álbuns que desejo e que, muitas vezes, estão esquecidos no tempo”. Fundada no Porto em 2015, a Babilónia, responsável pela reedição de Changri-Lá, de Carlos Alberto Vidal, é, portanto e antes de mais, fruto da melomania do seu fundador.

Tomada a decisão de criar a editora, havia que dar o (óbvio) passo seguinte. Que editar? A escolha recaiu sobre Changri-Lá porque este reunia todas as condições necessárias. Era, primeiro que tudo, um disco que André admirava. “Acho-o muito bem composto, naquela mistura entre uma escrita de cantautor, com boas melodias e harmonias, e os elementos mais ligados ao rock em voga na altura”. Acresce a isso, “a mística de ser um disco anterior ao Carlos Alberto Vidal se ter tornado a figura que todos conhecemos”. Por fim, mas essencial para a tomada de decisão, esteve o facto de ser praticamente impossível encontrar o álbum a preços acessíveis. Quem não seja um feliz proprietário de um exemplar da edição original, só podia ouvi-lo no YouTube com sofrível qualidade sonora. Tomada a decisão, faltava a aprovação do autor. Não demorou. Carlos Alberto Vidal mostrou-se entusiasmado desde a primeira reunião. A primeira edição estava a caminho.

André Azevedo C. Gomes tem 25 anos e é arquitecto de profissão. A Babilónia, explica, é um hobby. “Todo o dinheiro que fazemos serve que a editora continue”. Utiliza o plural porque não está sozinho. Ele é o fundador, aquele que trata das questões burocráticas ou dos textos de contextualização que acompanham a edição. Tem a seu lado João Sarnadas, cantor e compositor que conhecemos no meio musical como Coelho Radioactivo – ouçam-lhe, por exemplo, o óptimo Canções Mortas -, e Pedro Augusto, música e produtor portuense que conhecemos como Ghuna X e que é também o criador dos mais recentes Live Low, que trabalham numa fascinante reconstrução moderna da música tradicional portuguesa, como ouvido em Toada. Foi Pedro Augusto o responsável pela masterização da nova edição, feita a partir de um dos vinis da primeira edição – os masters originais, se ainda existem, foram impossíveis de localizar.

Todas as edições da Babilónia, tal como aconteceu com Changri-Lá, serão lançadas exclusivamente em vinil. Por ser o formato predilecto de André e por esse formato dar à arte gráfica um pormenor que o CD não possibilita. Serão sempre edições limitadas (a de Changri-Lá é de 300 exemplares) e disponibilizadas a um preço (20 euros) que os seus responsáveis consideram acessível. “O desejo final é que toda a gente tenha a música disponível, até porque são edições em formato físico e em número limitado. Até por isso, disponibilizo os ficheiros digitais em alta qualidade para que toda a gente possa ouvir”.

Neste momento, a Babilónia trabalha já naquelas que serão as suas próximas edições. Sem adiantar que discos estão a ser contemplados, André diz apenas que o segundo álbum da Babilónia chegará “previsivelmente” ainda em 2017. E que não será necessariamente uma pérola resgatada à década de 1970. “Não estamos limitados, nem temporalmente, nem em géneros musicais. Queremos editar em vinil tudo o que nos pareça que merece ser reeditado. Com a chegada as próximas edições, essa ideia vai ficar mais clara”, garante. M.L.

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