Morreu Tunga, o artista dos esqueletos sem cabeça

Foi o primeiro artista brasileiro contemporâneo a expor no Museu do Louvre, em Paris. Tinha 64 anos.

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Com um reportório experimental e radical, Tunga conquistou a atenção internacional DR

Aos 64 anos, um dos mais elogiados artistas contemporâneos brasileiros morreu, vítima de cancro, esta segunda-feira. Escultor, cineasta, artista, pintor, Tunga ficará para a história como o primeiro autor contemporâneo brasileiro a expor as suas obras no Museu do Louvre, em Paris.

Nascido em Pernambuco, em 1952, com o nome de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, Tunga vivia no Rio de Janeiro desde a década 1970. As suas obras de traços surrealistas partiam, segundo o próprio, “de reflexões a meio caminho entre versos e teorias filosóficas e científicas nunca demonstráveis nem refutáveis”, escreve o jornal brasileiro a Folha de São Paulo.

Em 1974 concluiu o curso de arquitectura e urbanismo, na Universidade Santa Úrsula. Nesse ano, apresentava a obra Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, marcando o início de uma carreira com temas ousados. 

Quando, em 2004, foi convidado pelo Louvre para realizar uma obra para exposição temporária, Tunga decidiu usar o espaço debaixo da pirâmide por onde entram todos os visitantes. A escolha? Um esqueleto sem cabeça, deitado sobre uma rede de metal entrançada e suspensa. A ideia passava pela transmissão de uma separação e conexão de um corpo inerte ao corpo do manipulador, através de cabos, hastes, correntes, ganchos e ventosas. À luz de dois mundos seria o título da sua instalação, feita com toneladas de bronze, aço e ouro e dava continuidade ao conjunto de obras içadas iniciadas com a instalação True Rouge, de 1997.

No Brasil, o artista deixa um pavilhão com mais de dois mil metros quadrados exclusivamente dedicados à sua obra, no Instituto Inhotim, em Belo Horizonte. A sua marca, não obstante, estende-se um pouco por todo o mundo, registando-se a sua presença em várias mostras de arte, como a Documenta de Kassel, em 1997, a Bienal de Veneza, em 1982, e a Bienal de Havana, em 1994.

Uma das suas obras mais emblemáticas, Ão de 1981, foi adquirida pelo Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova Iorque, no início de 2015. No mesmo acervo, Tunga conta uma segunda peça: Cooking Crystals.

Apesar de nas obras mais recentes ter aberto os seus desenhos para cores mais quentes, Tunga continuava, até muito recentemente, a afirmar ver “mais mistério na luz do que no escuro, na morte”.

O artista estava internado desde o dia 12 de Maio, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. 

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