Artista acusa Paço dos Duques de Bragança de censura

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A utilização do espaço da capela motivou as críticas à instalação Foto: DR

Críticas dos visitantes levaram ao encerramento prematuro de exposição em Guimarães com instalação inspirada nas relações entre a Igreja e o regime nazi.

O Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, decidiu encerrar, um mês antes do previsto, uma instalação inspirada nas relações entre a Igreja Católica e o regime nazi. A direcção do monumento nacional diz que a exposição foi mal recebida pelos visitantes, o que motivou a medida, mas o artista que concebeu a obra fala num caso de censura.

Requiem by a young painter

é uma obra do artista plástico Filipe Marques, feita em 2000, após a visita ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Um conjunto de retratos de oficiais nazis, parcialmente destruídos, foi disposto em volta do retrato do Papa Pio XII. A instalação foi inaugurada a 15 de Maio e devia ter-se mantido, na capela laicizada do Paço dos Duques de Bragança, até ao final deste mês. Mas as críticas dos visitantes fizeram com que a direcção daquele espaço tivesse decidido encerrá-la há uma semana.

"As pessoas não aceitaram muito bem a ligação entre o tema e o espaço", reconhece António Ponte, director do monumento nacional. Não existiram queixas formais, mas muitos visitantes deixaram críticas na caixa de sugestões daquele espaço, onde protestavam, acima de tudo, pela utilização da capela como espaço daquela instalação.

António Ponte admite que estas reacções foram determinantes para a decisão de encerrar a exposição mais cedo do que o previsto. "Estamos aqui para colaborar com os artistas, mas também temos que ter em conta o nosso público", explica, garantindo que falou com o artista dando conta dos problemas que a exposição estava a levantar. O director do Paço dos Duques de Bragança afirma que, desde que assumiu a liderança daquele espaço, tem tentado experimentar novas propostas de programação. "Temos vindo a fazer alguns testes para tentar perceber que ofertas podemos ter. Esse contexto foi sempre explicado ao artista", sublinha o director do monumento nacional.

Incómodo desde o início

"A exposição não é uma apologia do nazismo, mas precisamente o seu contrário", explica Eduardo Rosa, coleccionador privado, que cedeu a obra para a exposição em Guimarães. No site da galeria Sete, de que é proprietário, o convite da exposição no Paço dos Duques de Bragança surge com o selo "censurado", numa crítica que o coleccionador assume: "Não sei se alguma vez uma exposição cuja crítica e choque é conceptual foi censurada no Portugal após o 25 Abril".

O autor da instalação também ficou surpreendido com a decisão. "É incompreensível. O convite partiu do director do paço, que aceitou a minha sugestão para que utilizássemos a capela", afirma Filipe Marques. O artista de Vila do Conde diz que se apercebeu de algum mal-estar entre os guias do monumento desde o momento em que estava a montar a instalação, mas nunca imaginou que a exposição pudesse ser encerrada prematuramente.

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