Apichatpong Weerasethakul procura a Tailândia na Colômbia

O cineasta fala da dificuldade de contornar a censura na Tailândia, o que desestabiliza as condições de trabalho e a liberdade de criação.

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No passado da Colômbia, colonizada por espanhóis nos séc. XV e XVI, e na história recente, encontrará a sua Tailândia, onde não consegue filmar Nuno Ferreira Santos

Destino de Apichatpong Weerasethakul? Colômbia. O filme que se seguirá a Cemitério do Esplendor será rodado na Colômbia, segundo declarações do realizador tailandês, e Palma de Ouro de Cannes em 2010 (O Tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores) à revista Hollywood Reporter. Em Outubro de 2016, em entrevista ao Ípsilon, quando veio a Lisboa apresentar o seu projecto teatral Fever Room, à pergunta sobre se esse projecto de ir rodar para a América do Sul (intenção já anunciada, mas ainda sem concretização de país) era uma forma de dissidência, de recusa em participar na realidade política tailandesa (controlada por uma junta militar), o cineasta respondia que, sim, que se “recusava a participar” - pode dizer-se que as personagens de Cemitério do Esplendor, por exemplo, quando adormecem, estão também a recusar participar. E continuava: “Mas, ao mesmo tempo, quando digo que não me considero ‘cineasta tailandês’, é porque não me quero aprisionar em definições. Especialmente nestes tempos em que estamos ligados pela informação, pela abolição de fronteiras. A ida para a América Latina também tem que ver com isso de não me querer encerrar em fronteiras. Tudo está ligado. Especialmente a cultura e as imagens em movimento.”

Sendo uma cineasta que trabalha a partir da memória, dos lugares e das pessoas que são veículos habituais no seu cinema, a pergunta que fizemos a Apichatpong era natural: como substituir essa memória na América Latina? “Será uma forma de encarnação. É um desafio. Os contos tradicionais tailandeses, com animais e selva, foram na verdade inspirados por autores europeus ou sul-americanos, que, em tempos coloniais, romantizaram a selva e o perigo. É como se essa memória tivesse sido passada a um miúdo a viver na montanha na Tailândia. Ir até à América do Sul é como regressar a uma fonte. Não tenciono viver lá. Tenciono viajar até a um tempo colonial, até à origem de uma imagem.”

Ao Hollywood Reporter, Weerasethakul falava da dificuldade de contornar a censura na Tailândia, o que desestabiliza as condições de trabalho e a liberdade de criação. “Não se pode representar a realidade porque estamos sob o controle do que governo que encara os filmes como propaganda”. Por isso o estrangeiro. Vai viajar durante dois meses pela Colômbia, fase de pesquisa que alimentará o próximo filme. No passado do país, território colonizado por espanhóis nos séculos XV e XVI, e na história recente, encontrará, talvez, a sua Tailândia. “Imagino que é impossível de fazer um filme autenticamente local. Não creio conseguir fazer isso, tratar-se-á de um olhar estrangeiro e observador”.

 

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