A polícia da leitura

Os peixinhos-de-prata são atenciosos e poupam os livros de que realmente gostamos.

Raios partam os peixinhos-de-prata que nos comem os livros. Desde pequeno que ouço pragas a estes bibliófagos velozes e silenciosos que, em vez de comerem uma página de cada vez, fazem túneis através de todas, para tornar os livros ilegíveis.

Raios partam também as larvas que as mães dos peixinhos-de-prata aninham dentro de livros para elas poderem ter comidinha, à mão e à mandíbula, mal vêm ao mundo.

Neste mês de Abril tenho tido o nojo de encontrar centenas de larvas e, uma a uma, dezenas de peixinhos, não só em livros que estavam fechados há anos em caixotes, como em livros que estavam arrumados em estantes que estão espalhadas pela nossa casa.

Têm uma preferência para estragar colecções de obras completas. Numa colecção com 60 volumes comeram os números 3, o 34, o 45 e o 46. Não estavam apenas irrecuperáveis: estavam pululantes de larvas rudemente surpreendidas.

Não é preciso ser-se um entomologista - encartado ou amador - para ser frustrado no ódio que se quer ter a estes destruidores de livros. Seria como odiar seres humanos e outros animais que gostam de fruta.

A verdade é que os peixinhos-de-prata são atenciosos e poupam os livros de que realmente gostamos. Só comem aqueles em que não pegamos.

Só comem os livros que pensam, justificadamente, que já não queremos ler. Em contrapartida, fazem-nos sentir culpados. Então é preciso tirarmos, folhearmos e limparmos todos os livros que temos pelo menos uma vez por ano?

É. Cabrões.

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