A pirâmide do Louvre desapareceu

Quer fazer desaparecer um edifício conhecido em todo o mundo? O artista JR explica-lhe como, este fim-de-semana em Paris. Para já, o seu trabalho oculta a pirâmide de vidro e as redes sociais estão a adorar.

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JR salta em frente à sua obra JOEL SAGET/AFP
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A obra de JR é um sucesso nas redes sociais Pascal Rossignol/REUTERS
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A tela que cobre a obra de JR
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JR tem 33 anos JOEL SAGET/AFP
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A intervenção de JR foi feita a convite do Louvre JOEL SAGET/AFP
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Tem-se revelado irresistível para o Instagram, para os turistas e parisienses que, desde quarta-feira, passam pela muito fotografada entrada do Museu do Louvre e, à primeira vista e conforme o ângulo, parecem ser confrontados com o desaparecimento da pirâmide de vidro que ali mora desde 1989. A magia do trompe l’oeil, da anamorfose e a ideia do street artist e fotógrafo JR, autor de murais com fotografias de grandes dimensões em várias cidades do mundo, fizeram “desaparecer” um dos mais recentes marcos da capital francesa.

JR, francês e que mantém a sua identidade oculta atrás das letras que escolheu para seu pseudónimo, interveio na pirâmide a convite do Museu do Louvre – o mais visitado do mundo, casa de obras incontornáveis e que se tornaram sinónimos da capital francesa. Cobriu a pirâmide projectada pelo arquitecto sino-americano I.M. Pei com uma tela e regozijou-se por conseguir transformar mais um pedaço da paisagem urbana – “Nunca vou esquecer este dia. Hoje vou fazer desaparecer a pirâmide do Louvre”, disse, entusiasmado, à CNN.

O crítico de arte do Guardian, Jonathan Jones, nota quão inusitado é o convite: “É o equivalente de Banksy se tornar artista residente na National Gallery de Londres”.

A tela reproduz a fachada do Louvre e foi colocada sobre a pirâmide, e ali estará até 27 de Junho para que, num dado local e perspectiva, a pirâmide de vidro se torne opacamente transparente e se torne o local de milhentas photo-opportunities. Aliás, o museu não é alheio a esta realidade. Ao explicar como vai ser o programa em torno da intervenção de JR, comenta que o artista não só foi convidado pelo "'maior museu do mundo' – e que é também o maior produtor de selfies do mundo!"

“Adoro quando uma imagem entra no nosso campo de visão, sobretudo uma imagem de um lugar que é fotografado milhões de vezes. Espero que haja uma  que fique no inconsciente colectivo, a da pirâmide que já não existe”, disse o artista na quarta-feira em Paris, num encontro com a imprensa. JR tem 33 anos e este sábado vai viver as 24 horas do dia num programa especial do museu, uma maratona que, segundo o jornal L’Observateur, vai contar com um filme ainda em rodagem de JR e de Agnés Varda, uma masterclass, um concerto de seis horas de Nils Frahm e Olafur Arnalds e ainda visitas guiadas pelo conhecido ilusionista francês Yann Frisch.

“Seja no Médio Oriente, nas favelas do Rio, nos bairros de lata do Quénia, Nova Iorque, Haia ou Xangai, as obras de JR não deixam ninguém indiferente, porque devolvem o nosso olhar e vão ao cerne do que é mais intimamente nosso”, descreve o Louvre sobre o artista que começou no graffiti e é agora reconhecido como artista plástico e fotógrafo, autor de obras nas ruas das zonas que o museu menciona.

Foto
JR

Como o retrato do franco-maliano Ladj Jy, um homem rodeado por miúdos e que segura de forma tensa o que parece ser uma arma mas, afinal, é apenas uma câmara. Jogando com as ideias feitas e a capacidade de o olhar ser confundido por elas, faz parte da série Portraits of a Generation (2004-6), que retratou jovens parisienses em toda a sua diversidade e os expôs, sem autorização, nas paredes do bairros sociais Cité des Bosquets e Cité de la Forestière, zonas de tensão nos motins de há dez anos; seria acolhido pela Câmara de Paris, que mais tarde aprovaria a sua “exposição”.

Interveio com retratos de israelitas e palestinianos em cidades da região, ou com imagens de mulheres em zonas de conflito (a série Women are heroes acabou por ser um filme que esteve em competição em Cannes em 2010), trabalhando também com companhias de bailado ou outros agentes culturais. Outro dos seus trabalhos mais mediáticos é o projecto Inside Out, que começou com rostos nas paredes de Times Square, em Nova Iorque, para se propagar pelo mundo. Outro trabalho bem conhecido foi capa da revista do New York Times sobre Nova Iorque em Abril de 2015.

Jonathan Jones – que lembra como a pirâmide não é uma obra unânime no complexo do Louvre – pede, ironicamente: “Será que JR não pode também cobrir o [arranha-céus de Renzo Piano] Shard e algumas das outras cidadelas da riqueza e do poder de Londres com imagens de nuvens para que não as vejamos mais?”. 

Infografia: The Shard

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