A justiceira solitária

Hou Hsiao-Hsien reinventa o filme de artes marciais com uma verdadeira festa para os sentidos.

Foto

É um deslumbre para os sentidos, este regresso do taiwanês Hou Hsiao-Hsien, ensaiando uma abordagem sui generis ao filme de artes marciais wu xia pian chinês – misto de melodrama romântico contado com um pudor subterrâneo, jogo de poder político opaco e quase-western em câmara lenta sobre uma justiceira que toma o seu destino nas mãos e se recusa a ser mero joguete.

Tudo filmado em estado de graça e animação suspensa pela câmara mágica de Mark Lee Ping-Bing e por um cineasta que faz valer a sua posição de “intruso” numa mecânica bem rodada, electrão livre que reinventa e retrabalha o género - à imagem de uma heroína (Shu Qi) que não está disposta a jogar pelas regras. Por aqui não se corre o risco de encontrarmos um novo Zhang Yimou, absorvido pelo “sistema” até se tornar pouco mais do que uma marca registada visual: pelo contrário, Hou defende a liberdade de pensamento e acção, sem heroísmos nem hagiografias. Foi disto que Wong Kar-Wai passou ao lado com O Grande Mestre.

Sugerir correcção
Comentar