A grande viagem dos Dias da Música no CCB

O mote é inspirado na Volta ao Mundo em 80 Dias e, de norte a sul, de oriente a ocidente, entre tradições e contaminações, muito mundo haverá a percorrer no Centro Cultural de Belém até domingo.

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Nuno Ferreira Santos

Os Dias da Música regressam a Belém e a proposta é ambiciosa. Trata-se de conseguir em três dias o que Phileas Fogg só conseguiu em 80. “A Volta ao Mundo em 80 Concertos”, assim se apresentam, sob o signo de Júlio Verne, os três dias de música no Centro Cultural de Belém. Uma viagem por diversas geografias e culturas  e pela forma como estas se influenciaram mutuamente.

Esta quinta-feira, o concerto pré-inaugural já dá de certa forma o mote: em Rondó da Carpideira homenageou-se o trabalho de um corso, Michel Giacometti, que atravessou o Mediterrâneo e a Espanha para se tornar um dos grandes responsáveis pelo mapeamento da tradição musical portuguesa. De sexta-feira até domingo, outros encontros, outras viagens se revelarão. No concerto de abertura (sexta-feira, Grande Auditório, 21h30), o pianista Josep Colom, acompanhado pela Orquestra Sinfónica Metropolitana, com direcção de Pedro Amaral, levar-nos-á à Iberia de Debussy, mostrar-nos-á as Noches en los Jardines de España de Manuel de Falla, e acabaremos sob o encantamento da Scheherazade de Nikolai Rimsky-Korsakov.

No fim-de-semana, haverá oportunidade para descobrir os Estados Unidos através do jazz e blues idiossincrático de James “Blood” Ulmer, o primeiro guitarrista que a lenda do free-jazz Ornette Coleman acolheu no seu seio, em 1970 (sábado, Sala Fernando Pessoa, 22h, e domingo, 19h, na mesma sala), ou para viajar no mesmo dia até à Guiné-Bissau que, às 18h, na Sala Almada Negreiros, visitaremos ao sabor do bailado da kora de José Galissá – poderemos também descobrir a diversidade da música iraniana e a riqueza da sua poesia no concerto Uma tarde num jardim persa (16h, Sala Almada Negreiros).

Se viajar é encontrar o outro, então muita curiosidade suscitam os momentos de partilha programados. Às 14h, no sábado, o Ensemble Darcos Yoglstragong interpreta o Quarteto de Cordas em Sol Menor de Debussy, em que o compositor expressionista verteu para a sua música o fascínio pela música do Oriente, em particular a das ilhas indonésias de Java e de Bali, cuja tradição musical será também interpretado no concerto. Quatro horas depois, na Sala Sophia de Mello Breyner, Israel e Palestina encontram-se, fraternos e em paz, através do Duo Amal, formado pelos pianistas Bishara Aroni, palestiniano, e Yaron Kohlberg, israelita (repete no domingo, às 15h, na Sala Almada Negreiros). Isto sem esquecer o Concerto Para Piano de Sérgio Azevedo, que se reúne a El Amor Brujo, de Manuel de Falla, pelas mãos do pianista António Rosado, que actua com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida por Peter Tilling (sábado, 22h, Grande Auditório). Aponte-se ainda o nome de alguém cujo percurso representa ele mesmo essa ideia de contaminação cultural: o libanês Rabih Abou-Khalil, que tantas vezes vimos por cá em colaboração com o fadista Ricardo Ribeiro, apresenta-se com o seu trio no Pequeno Auditório, sábado, às 22h, e domingo, às 19h, na Sala Almada Negreiros.

Ao longo de três dias, visitaremos a Rússia Imperial e a Alemanha, Goa e Itália, a Argentina ou a Escócia. Ouvir-se-ão Bach, Purcell, Sibelius, Luís de Freitas Branco ou Gershwin. Haverá oficinas de arquitectura, música, representação e sonoplastia na Garagem Sul, actividades para as crianças na Fábrica das Artes ou um mercado aberto na Praça do CCB. Ouvir-se-á música e falar-se-á de música – no espaço Aqui há Conversas, o jornalista Nuno Galopim será o moderador de debates em volta do tema dos Dias da Música.

Pelos palcos passarão cerca de 1700 músicos, distribuídos por sete salas. Os preços para os concertos e actividades complementares variam entre os 4 e os 11 euros. 

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