“A geometria é a cama onde repousam as imagens”

Jorge Pinheiro fala sobre a sua obra que agora pode ser vista na exposição Jorge Pinheiro: D’Après Fibonacci e as coisas lá fora em Serralves, no Porto.

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Pedro Cabrita Reis, à direita, com Jorge Pinheiro na exposição dedicada à obra deste artista em Serralves Nelson Garrido

Poucos minutos antes de se iniciar a conferência de imprensa convocada por Serralves para apresentar a exposição Jorge Pinheiro: D’Après Fibonacci e as coisas lá fora, na qual  o artista só interviria para manifestar a sua gratidão e garantir que “não estava nada à espera que uma coisa destas pudesse acontecer”, perguntámos-lhe se se revia na definição de Pedro Cabrita Reis, que o considerara um artista clássico. “Acho que sou profundamente clássico: adoro os gregos, o Renascimento. Sim, sou muito clássico”, confirmou.

Mas também é, assume, um artista político: “A parte mais política da minha obra, que está aqui representada, sou eu, como cidadão, a olhar para o mundo”, diz. E referindo-se a peças como Ao povo do Alentejo, acrescenta: “Como não gosto de muito do que vejo, saem-me estas coisas, com uma base muito racional no modo como se organiza a composição, mas com um discurso que está muito próximo da palavra, e que é muito incomodativo, porque são coisas que sinto necessidade de fazer, mas de que não gosto”.   

Mas a sua arte também tem, lembra, apontando para as suas divertidas esculturas dos anos 60, “uma componente lúdica fortíssima”. E, como em toda a criação, embora nem todos os criadores enunciassem a questão com esta simplicidade, “há depois um lado catártico cuja utilidade é só a de resolver os problemas existenciais do próprio artista”.

Do seu interesse por Fibonacci, que daria decerto conversa para horas, é que já não houve tempo para falar muito, mas Jorge Pinheiro reconhece que várias das obras presentes em Serralves são “resolvidas a partir da série” concebida pelo grande matemático medieval italiano. E que “quase tudo” o que faz está “alicerçado no número, na proporção”, incluindo a sua pintura figurativa. “A raiz disto tudo é a geometria: a diferença é que na pintura figurativa, ela é a cama onde repousam as imagens, ao passo que noutras obras a cama está à vista”. 

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