A “fotografia existencial” de Rineke Dijkstra distinguida com o prémio Hasselblad

Fotógrafa holandesa sucede a Stan Douglas numa das mais importantes distinções mundiais na fotografia. Uma das séries de retratos mais marcantes de Dijkstra foi captada em Vila Franca de Xira, no início da década de 1990.

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Vila Franca de Xira, Portugal, 8 de Maio de 1994 Rineke Dijkstra
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Kolobrzeg, Polónia, 26 de Julho de 1992 Rineke Dijkstra
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Almerisa, Centro de Refugiados de Leiden, 14 de Março de 1994 Rineke Dijkstra
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Shany Herzliya, 1 de Agosto de 2003 Rineke Dijkstra
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Vondelpark, Amesterdão, 10 de Junho de 2005 Rineke Dijkstra

A fotógrafa holandesa Rineke Dijkstra foi reconhecida com o Prémio Internacional de Fotografia da Fundação Hasselblad, uma das mais importantes distinções mundiais na fotografia, com um valor pecuniário de um milhão de coroas suecas (cerca de 105 mil euros). Para além da atribuição do prémio monetário, a Fundação Hasselblad organizará uma conferência sobre a obra de Dijkstra (10 de Outubro), à qual se seguirá a inauguração de uma exposição retrospectiva, bem como o lançamento de um livro. A cerimónia de atribuição do prémio decorrerá em Gotemburgo, na Suécia, no dia 9 de Outubro.

Para o presidente do júri, Duncan Forbes, as fotografias e filmes de Rineke Dijkstra “falam de forma brilhante sobre a complexidade do retrato”, nas suas diferentes dimensões: “personificação do tempo”; “capacidade de revelar uma história”; “contingência no acto de troca entre retratado, retratista e espectador”; “revelação fotográfica da personalidade”. “Num momento em que a imagem de retrato se dissipa numa economia de narcisismo e celebridade fractal, Rineke Dijkstra lembra-nos o potencial público do retrato fotográfico”, refere uma declaração de Forbes citada no comunicado divulgado pela Hasselblad.

Por seu lado, a Fundação afirma que “as imagens de Rineke Dijkstra lembram a acuidade visual do retrato holandês do século XVII”, conseguem chegar à intimidade dos retratados ao mesmo tempo que “sugerem outros aspectos do seu ser”. Para a Hasselblad, Rineke Dijkstra é “uma das artistas contemporâneas mais importantes a trabalhar no retrato fotográfico”. A fotógrafa holandesa, cuja obra se centra quase em exclusivo na questão da identidade, capta habitualmente os seus sujeitos em “momentos de transição e vulnerabilidade”.

Para além da fotografia, o trabalho de Dijkstra também envolve o vídeo (“fotografias em movimento”), uma dimensão da sua obra que a fundação sublinhou, na medida em que tem contribuído para “revolucionar a nossa compreensão do limite fluído entre a imagem estática e em movimento”.

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Rineke Dijkstra © Hasselblad Foundation

Por último, na justificação do prémio, Christina Backman, directora-geral da Fundação Hasselblad, apontou a forma “cativante” como a artista holandesa regista a “transformação de jovens em adultos”.

À procura da “fotografia existencial”

Rineke Dijkstra (1959, Sittard) tem erguido a sua obra em torno do retrato, tornando-se “uma das mais proeminentes e internacionalmente aclamadas artistas” dentro deste género. Para a Fundação Hasselblad, Dijkstra procura um tipo de “fotografia existencial” que tenta sintonizar-nos “na troca entre fotógrafo e sujeito e na relação entre observador e observado”.

A carreira de Rineke Dijkstra começou no início dos anos 1990 com duas séries de retratos, uma com mães e filhos recém-nascidos momentos após o parto, e outra, captada em Vila Franca de Xira, com toureiros acabados de sair da arena depois da pega. Nestes trabalhos, a Hasselblad lembra a intenção da artista em captar simultaneamente e em circunstâncias extremas “emoções contraditórias”, como a exaustão, a alegria, o medo e o alívio.

O comunicado da Fundação refere outros trabalhos marcantes na obra de Dijkstra, como Beach Portraits (1992-2002), uma das suas séries mais conhecidas, onde crianças e adolescentes surgem em pé em frente à câmara, em praias da Europa Oriental e Ocidental, e dos EUA, revelando de “forma pungente a sua vulnerabilidade e auto-consciência durante um período de transição entre a criancice e a adolescência”.

Os trabalhos da artista holandesa têm por norma períodos de produção longos e é comum fotografar as mesmas pessoas ao longo do tempo, de maneira a conseguir “testemunhar as mudanças, bem como os traços característicos das suas personalidades”. A Hasselblad identifica um destes acompanhamentos fotográficos a longo prazo, o da rapariga bósnia Almerisa Sehric, que começou a ser fotografada em 1994 num centro de refugiados na Holanda e que até hoje continua a receber a visita de Dijkstra. “Retratando um indivíduo na sua caminhada pessoal desde a condição de refugiado até se tornar parte de uma nova sociedade, este corpo de trabalho tem sido altamente relevante desde há mais de duas décadas. E continua a ecoar no actual clima político, contrastando com a forma como os requerentes de asilo e os migrantes são frequentemente descritos apenas como números.”

Os trabalhos em suporte vídeo de Rineke Dijkstra (criados a partir de meados 1990) são descritos como “estudos sensíveis” das gerações mais novas. Obras como The Buzz Club, Liverpool, Reino Unido/Mystery World, Zaandam, Holanda (1996–97) e The Krazyhouse (Megan, Simon, Nicky, Philip, Dee), Liverpool, Reino Unido (2009) mostram adolescentes em discotecas locais a dançar ao som das suas músicas preferidas.

Para além de Duncan Forbes (curador, escritor e investigador convidado da Universidade de Westminster, Londres), o júri que submeteu a nomeação de Rineke Dijkstra ao conselho de administração da Fundação Hasselblad era constituído por Jennifer Blessing (curadora de fotografia do Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque), Simon Njami (curador e escritor, Paris), Esther Ruelfs (chefe do Departamento de Fotografia e Novos Meios do Museum für Kunst und Gewerbe, Hamburgo) e Mark Sealy (curador e director da Autograph ABP, Londres).

A Fundação Hasselblad foi fundada em 1979 por determinação testamental de Erna e Victor Hasselblad. Os principais propósitos desta instituição passam por promover a educação científica e a investigação em fotografia e ciências naturais. O Prémio Internacional de Fotografia da Fundação Hasselblad é atribuído todos os anos. O canadiano Stan Douglas foi o artista distinguido no ano passado.

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