A descoberta da obra do quinhentista Jorge Ferreira de Vasconcelos vai continuar

Depois da exposição, chega finalmente o catálogo: Um Homem do Renascimento é lançado esta segunda-feira, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, às 18h30.

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Silvina Pereira junto a um cartaz com retrato de Jorge Ferreira de Vasconcelos DR

Para muitos terá sido uma descoberta: Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515/1524?-1585), contemporâneo de Camões e Bernardim, autor quinhentista cuja obra tem gerado interesse crescente em Espanha, teve em 2015, nas celebrações do seu 5.º centenário, um passo decisivo para sair de uma imerecida obscuridade em Portugal. Um atelier em 2014, um colóquio internacional em Maio de 2015, na Fundação Gulbenkian, uma exposição na Biblioteca Nacional e uma série de conferências, nomeadamente na Academia das Ciências, na Biblioteca Nacional, na Universidade de Évora e na Universidade das Ilhas Baleares, foram decisivas para a sua divulgação.

Silvina Pereira, investigadora e directora teatral (do Teatro Maizum) que se especializou na sua obra e fez dela tese de doutoramento, deixou-se fascinar pelo mundo de Vasconcelos e quer levar mais além estes trabalho, que deixou inúmeras pistas e algumas raízes. O catálogo que agora sai é uma delas. E muito em breve será possível “ler” Jorge Ferreira da Vasconcelos em pacotes de açúcar, numa série de dez provérbios de sua autoria neles impressos (sem apoio da DGArtes, as comemorações conseguiram atrair empresas como a Delta ou o Montepio). “O que fica deste 5.º centenário?”, diz Silvina. “Ele vai continuar, porque tem muitas actividades, nomeadamente a itinerância da exposição. Com o apoio da DGLAB (Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, está a ser preparada uma digressão nacional, ao nível das bibliotecas da universidades, nomeadamente Coimbra, Évora, Braga. E gostaria de estender isto à Universidade do Porto e, quem sabe, à de Aveiro. E também está a ser preparada uma outra itinerância, mas ao nível das bibliotecas do secundário. Com a exposição, uma conferência e talvez, nalguns casos, uma leitura cénica da Comedia Aulegrafia.

Esta continuidade, para Silvina Pereira, “faz todo o sentido” porque, mais do que uma celebração centrada num determinado período, estas acções são o início de algo mais vasto. “Em termos internacionais, nomeadamente em Espanha, há muito interesse por este autor. A Comedia Eufrosina Já teve três edições castelhanas e está a ser trabalhada uma quarta por dois investigadores, John Cull (do Colégio de Worcester) e Antonio Vistarini (da Universidade das Ilhas Baleares). Fala-se muito desta obra em Espanha por causa do Lope de Vega, do Francisco Quevedo, do Menéndez Pelayo, e também da descoberta (monumental) da edição princeps da Aulegrafia por Eugenio Asensio.”

No catálogo agora editado, escreve-se que da obra atribuída a Jorge Ferreira de Vasconcelos – que se estreou no prelo com Os Triunfos de Sagramor, em 1554 – somente as três comédias, Eufrosina, Ulysippo, Aulegrafia e o Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda são hoje conhecidas. As restantes estão desaparecidas. No Teatro Maizum, e isso é também assinalado no catálogo, a par das variadas edições das obras de Vasconcelos, Silvina já levou a palco as primeiras duas comédias, faltando a Aulegrafia, que ela ainda não desistiu de encenar, assim consiga meios para tal.

Mas há mais: “Tenho já preparada para o prelo a versão juvenil da Eufrosina, penso que estão para sair os textos das comédias pelas Imprensa Nacional, pelo Centro de Estudos de Teatro, há uma série de conferências marcadas, há o livro de actas e haverá mais edições. E está em perspectiva, para ser feita, a Comedia Aulegrafia, já não direi em 2016 mas em 2017. A menos que houvesse sensibilidade dos responsáveis culturais para este projecto do teatro clássico português. Que é um projecto estruturante, é uma ideia de resgatar o teatro desconhecido português, que continua a ser terra incógnita. Um país que tem dois autores como Jorge Ferreira de Vasconcelos e Gil Vicente não pode dizer que não tem teatro clássico. Tem um grandíssimo teatro, e de primeiro plano!”

Na sessão desta segunda-feira, o livro-catálogo será apresentado pela directora da Biblioteca Nacional, Maria Inês Cordeiro, por Guilherme d’Oliveira Martins e por Silvina Pereira.

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