55 anos de Johnson

Hugh Johnson escreve tão bem e é tão espirituoso e entusiástico que é pena ser apenas lido por quem gosta de vinho.

Todos os livros de Hugh Johnson são deliciosos mas Hugh Johnson on Wine, por ser uma escolha implacável das melhores crónicas que ele escreveu nos últimos 55 anos, é o mais moreish.

É bom ter os mais divertidos e mordazes prefácios de 40 edições do Pocket Wine Book porque nos pesa a culpa de não ter guardado todas. Quem conhece a coluna dele na magnífica revista World of Fine Wine achará que ele foi severo demais, retendo apenas uma pequena parte das maravilhosas observações que foi fazendo ao longo dos trimestres.

Johnson escreve tão bem e é tão espirituoso e entusiástico que é pena ser apenas lido por quem gosta de vinho. Johnson é, no verdadeiro sentido das palavras, refrescantemente honesto. É como os vinhos Chablis e Champagne que tão bem celebra: não lhe falta nem personalidade nem elegância nem acidez.

Mas o que ele faz é exaltar a civilização através da prática diária dos prazeres que ela oferece. O prazer transmite-se através de uma prosa que abre o apetite, faz rir e ensina a viver. O retrato dele de Portugal (Sunny Austria-On-Sea, 1967) é dos mais bem vistos e comoventes que já li. A nota de rodapé com que o actualiza é um exemplo de coragem. Todas as notas, aliás, são ouro sobre azul, como o Tokaji que ele adora, elogia e ajuda a produzir.

Escrever bem sobre o vinho (e os vinhos) é dificílimo mas Johnson consegue. Há quem saiba mais sobre o vinho e quem se esforce mais para descrevê-lo empiricamente mas nenhum vinófilo escreve tão bem como ele — sobre tudo.

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