O planeta dos macacos

Uma aclamada actuação dos alemães Guano Apes concluiu no domingo o sétimo Festival de Paredes de Coura. Numa edição que teve momentos memoráveis oferecidos pelos Suede, pelos dEUS e pelos Lamb, o maior destaque vai para a enorme afluência de público - que superou as expectativas de 15 mil pessoas por dia. A organização mostra-se satisfeita com o balanço, e recusa a ideia de uma crise de crescimento no festival.

Os alemães Guano Apes converteram a última noite do festival de Paredes de Coura, anteontem, num autêntico "planeta dos macacos", com um espectáculo muito agitado que pôs o público a saltar do início ao fim. Público que compareceu novamente em grande número, tal como nos dois dias anteriores. João Carvalho, da Associação de Incentivo à Cultura Courense, responsável pela organização do festival, disse ao PÚBLICO: "Não acredito que tenha passado os vinte mil [espectadores por dia]", admitindo mesmo assim que este "foi o ano em que esteve, de longe, mais gente". O que provocou que, no sábado, já houvesse dificuldades em ver para o palco. "Dei quatro ou cinco voltas ao espaço, e ainda não sei de nenhuma situação de aperto total. Na metade superior do terreno em frente ao palco principal, as pessoas viram o concerto sentadas ou deitadas", disse João Carvalho.Um dos maiores problemas criados pelo excesso de público foi o congestionamento da ponte que servia como único acesso ao parque de campismo: "Foi um problema que nos surpreendeu. Para o ano que vem, vamos tentar ter duas pontes adicionais". Quanto ao resto, o balanço de João Carvalho é positivo: "Com a Cruz Vermelha, esteve tudo calmo. E nenhuma das bandas falhou." Para o ano 2000, promete "manter o espírito do festival, melhorar as infraestruturas, talvez alargar o espaço, comprando mais terrenos".Também Pereira Júnior, presidente de Câmara de Paredes de Coura, está satisfeito: "Fomos visitados por 25 a 30 mil pessoas que ficaram a conhecer e a gostar de Paredes de Coura". Pereira Júnior garante que os seus munícipes já estão totalmente habituados à azáfama. "Convivem perfeitamente, misturam-se com os jovens na praia fluvial. Já não passam sem o festival, tornou-se um hábito", disse.Com menos público que no dia anterior, mas mesmo assim próximo das 20 mil pessoas, o anfiteatro da Praia Fluvial do Tabuão apresentou-se já composto para o concerto dos lisboetas Pinhead Society, que voltaram a apresentar o seu rock alternativo de guitarras. Com um som mais pesado que nas suas presenças em outros festivais deste Verão, os Pinhead Society conseguiram arrancar os primeiros aplausos da audiência, acabando contudo sem a sua habitual avalanche de distorção. Os escoceses Mogwai também começaram por obter palmas, mas a partir daí o público ficou dividido. Houve quem apreciasse o rock experimentalista e totalmente instrumental do grupo de Glasgow, e houve quem assobiasse as suas longas divagações sónicas sem qualquer semelhança a um formato normal de canção. Os Mogwai só abriram a boca por duas vezes, e ambas num sotaque cerradíssimo e indecifrável. Num concerto difícil, os Mogwai acabaram por ter a maioria do público consigo. Palavras para quê? "Olá, nós somos os novos Sneaker Pimps". É verdade: com a saída de Kelli Dayton, os Sneaker Pimps mudaram bastante. É agora na silhueta andrógina de Chris Corner que as atenções se concentram, uma figura e voz sexualmente ambíguas que deixaram muita gente no público a indagar-se: "Mas isto é um gajo ou uma gaja?" É um homem, que lidera os Sneaker Pimps pelos ritmos hipnóticos misturados com guitarras pesadas de "Spin spin sugar" ou "6 Underground". Também ele tirou uma foto ao público no fim do concerto, uma moda entre as bandas que passaram por Paredes de Coura.Era quase uma da manhã quando entraram os Guano Apes, que, a avaliar pela reacção do público, eram o grupo mais esperado do fim de semana. A vocalista Sandra Nasic até teve direito a um cartaz na audiência a dizer "We love you Sandra". Os alemães arrancaram com "Maria", desfiando uma série de canções ao seu estilo funk-metal-rap. Uma fórmula simples e pouco original, mas que leva o público a um "mosh" frenético com temas como "Crossing the deadline" ou "We use the pain". Tão encantada com a audiência estava Sandra Nasic que passou o concerto a virar o microfone para o público, que provou conhecer de cor as letras de "Open your eyes" ou "Rain". Fizeram dois encores, no segundo dos quais Nasic, já com todo o repertório dos Guano Apes percorrido, pergunta ao público que música é que queriam ouvir outra vez. A escolha recaiu sobre "Lord of the boards". Depois veio uma sessão de fogos de artifício, que chegou a assustar alguns espectadores sobre quem caiam faúlhas acesas. Às duas da manhã, concluiu-se a festa. Para o ano há mais.

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