Nova editora quer agarrar a Shhpuma da música em disco

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Travassos propõe-se registar "todo este fervilhar que anda por aí" rui gaudêncio

A reboque do Festival Rescaldo nasce uma nova editora, vocacionada para uma música experimental, por catalogar

Hoje, último dia do Festival Rescaldo (com Cangarra e o quarteto Canhão/Sousa/Nogueiro/Ferrandini na Trem Azul Jazz Store, a partir das 22h), começa verdadeiramente a vida da editora Shhpuma.

A data e o local são tudo menos acidentais: a Shhpuma é uma extensão editorial do experimentalismo programado pelo Rescaldo e, em grande parte, tomou forma a partir dos encontros regulares e espontâneos de músicos tresmalhados do rock e da música dita indie no espaço da loja Trem Azul, em Lisboa. O ponto de tangência entre estes universos tem um nome: Travassos, programador do festival, designer da editora Clean Feed (empresa-irmã da Trem Azul) e responsável máximo pela Shhpuma.

A Shhpuma começou verdadeiramente a borbulhar com o sucesso internacional da Clean Feed - formada em 2001 e hoje tida consensualmente como uma das mais importantes casas mundiais de edição do jazz actual - e com a avalancha de propostas que iam chegando ao escritório-loja na Rua do Alecrim, na capital.

"Ao longo dos anos", diz-nos Travassos, "fomos recebendo música incrível que não tinha cabimento no catálogo da Clean Feed. Por outro lado, temos acompanhado todo este fervilhar que anda por aí, analisámos e pareceu-nos fazer sentido apoiar este tipo de música, que, possivelmente, está mais vivo do que o jazz".

O tipo de música a que Travassos se refere é um género a que, à falta de melhor definição, poderemos chamar "música contemporânea portuguesa". Mas parte de gente sem ligação real à música erudita, com natural curiosidade para a improvisação. São disso prova os dois primeiros lançamentos da editora: um disco de guitarra solo de Filipe Felizardo e um álbum do trio Pão (Tiago Sousa, Pedro Sousa e o próprio Travassos).

Mas não é só por ser também músico que o editor da Shhpuma assume um papel activo no aparecimento destas propostas. Desde a abertura da Trem Azul Jazz Store, em 2004, que a sua sala de ensaios começou a ganhar uma vida autónoma e a tornar-se pólo de encontro para músicos que, na verdade, não se encontram na órbita do jazz. Tiago Sousa (pianista, autor de Walden Pond"s Monk) e Filipe Felizardo, mas também Norberto Lobo, David Maranha ou Margarida Garcia, gente a querer fugir de uma música já cartografada e identificada, em busca de novas parcerias e fugas para as suas linguagens musicais de base.

Lançar desafios

A tarefa de Travassos tem sido a de espicaçar estes encontros: "As pessoas sentem um certo conforto naquele espaço; nós vamos motivando e lançando desafios".

Um desses desafios, pensado para o Rescaldo mas também nos planos de edição da Shhpuma, foi o encontro inédito entre a guitarra acústica de Norberto Lobo e o contrabaixo de Carlos Bica. Na calha encontra-se igualmente a edição de um projecto sonoro do artista plástico Ricardo Jacinto, apresentado originalmente em 2008, na Culturgest.

A Shhpuma, acredita o editor, conseguirá dar eco aos sons menos alinhados e estimulantes que Lisboa produz em barda, actualmente. Mas não só. Porque a caixa de correio electrónica de Travassos, ainda a editora não tinha sido apresentada oficialmente, rebentava já pelas costuras com novas propostas vindas de fora. De fora de Lisboa, mas também de fora do país. O objectivo assumido é apenas um: "Desbravar caminho", nota Travassos.

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