La Féria vai estrear Música no Coração, um sonho com 40 anos

Filipe La Féria vai estrear o célebre musical em Setembro. Versão no Politeama foi feita a partir do texto original e não da versão da Broadway, "mãe" de todas as versões

O encenador Filipe La Féria, hoje com 62 anos, ainda se lembra das palmas com que o público do Tivoli, em Lisboa, brindava nos anos 60 a cena do filme Música no Coração, de Robert Wise, na qual o capitão Von Trapp rasga uma bandeira nazi. Sonha encenar o musical desde essa altura - o filme é de 1964 - e agora vai concretizá-lo.Em Setembro, o encenador de blockbusters vai estrear a sua versão de Música no Coração no Teatro Politeama, em Lisboa.
Ontem, na apresentação à imprensa do seu novo trabalho, Filipe La Féria disse que esta é uma "missão quase impossível, num teatro que vive exclusivamente das receitas de bilheteira", mas que após verem Amália e My Fair Lady, os seus musicais anteriores, os herdeiros dos autores do texto original - Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II - lhe deram os direitos para apresentar o espectáculo em Portugal. O britânico Andrew Lloyd Webber também conseguiu esses direitos e prepara-se para estrear Música no Coração em Outubro, no London Palladium, em Londres.
La Féria - que apesar de estar rodeado pelos actores, acabou por ser o único a falar - disse que é "bastante consolador" poder fazer um trabalho diferente da primeira versão, estreada em 1959, na Broadway, e que foi modelo de todas as outras versões, incluindo o filme protagonizado por Julie Andrews (e vencedor de cinco Óscares em 1964). "As personagens são mais ricas e a cronologia é diferente", disse. "A peça tem uma mensagem fortíssima."
Mas não foi fácil. "A tradução do texto original em inglês foi muito difícil porque eles não têm o sentido poético dos latinos." As palavras "humanas" da preceptora Maria Rainer foram traduzidas "com muita simplicidade para se transformarem num hino à liberdade, no sentido em que os Von Trapp foram um ícone de resistência".
A história (verdadeira, mas aqui adaptada) da família Von Trapp que, com o nascimento da Alemanha nazi, teve de fugir para os Alpes, é protagonizada pelas cantoras Anabela e Lúcia Moniz (que alternam no papel da noviça e preceptora Maria Rainer) e por Carlos Quintas (capitão Von Trapp).
La Féria queria Anabela como única protagonista, mas a actriz hesitou: "Ela quer dar o melhor e achou que não conseguia", disse o encenador. A aposta em Lúcia Moniz, diz La Féria, veio do "gosto" que tem "em equilibrar pessoas" que conhece bem "com a aventura de recorrer a novos actores".

Audição a 500 criançasMais de 500 crianças concorreram às audições de Música no Coração para interpretar os sete filhos indisciplinados do capitão, mas apenas 20, dos cinco aos 16 anos, foram escolhidas pelo encenador, o director vocal António Leal e o director musical Telmo Lopes. "É um prazer trabalhar com um elenco tão jovem e generoso; há valores extraordinários que não se acarinham em Portugal", lamentou La Féria. Os jovens actores fizeram um workshop de duas semanas e "estão prontos para a estreia!".
As cantoras líricas Helena Vieira, Lia Altavila e Helena Afonso (freiras) completam o elenco, com Joel Branco (tio Max) e Vera Mónica (baronesa).
É o público, diz La Féria, que lhe dá forças para continuar em projectos de grande escala: "O público é a grande conquista do Politeama e a grande âncora deste teatro."
Com 500 representações realizadas de My Fair Lady e 1000 de Amália, os grandes sucessos do Politeama, La Féria acredita no sucesso de Música no Coração: "Estamos aqui com entusiasmo e força para fazermos o espectáculo das nossas vidas."

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