João Maria Gusmão e Pedro Paiva de volta à Zé dos Bois

Depois do Museu do Chiado, a dupla de artistas regressa à alternativa ZdB para continuar um projecto iniciado há dois anos

São seis filmes, cinco fotografias de grande formato e duas instalações. A segunda parte da exposição Eflúvio Magnético, que João Maria Gusmão e Pedro Paiva começaram há dois anos na galeria Zé dos Bois (ZdB), em Lisboa, é uma avalanche de novos trabalhos. É também uma espécie de regresso a casa para a dupla que entretanto recebeu o Prémio EDP Novos Artistas (2004) e teve uma exposição individual no Museu do Chiado (2005), mas que já antes, em 2002, realizara para a ZdB aquele que considera ser o seu "primeiro grande desafio": o projecto DeParamnésia.
Foi durante o processo de pesquisa para um "documentário ficcional futurista" a apresentar nessa ocasião que Gusmão e Paiva leram pela primeira vez o romance de Victor Hugo O Homem que Ri (1869). Este acabaria por dar origem ao postulado teórico de Eflúvio Magnético.
Há um momento em que Victor Hugo descreve uma tempestade que toma conta do canal da Mancha, acabando por analisar uma série de "leis que estão fora do homem". O "eflúvio magnético", um manifestação subtil da natureza que os artistas descrevem como estando "à margem do compreensível e do comunicável", é uma dessas leis. "Existem neste mundo realidades que são como as saídas do desconhecido, por onde parece possível a saída do pensamento, e onde se precipita a hipótese", escreve Victor Hugo. Cada nova fotografia, filme ou instalação desta dupla de artistas parte de um principio semelhante.
Depois de Intrusão: The Red Square, a exposição do Museu do Chiado em que havia propostas de Como Desviar o Eixo da Terra atravessando-a com uma vara (filme) e um Duelo de guarda-chuva em punho e explosão titânica em pano de fundo (filme), o confronto com o insólito mantém-se como tónica da exposição da ZdB.
Num dos filmes - A Cinética da Palavra -, uma das enigmáticas figuras masculinas com que os artistas costumam trabalhar faz um número de levitação com troncos de pinheiro, acabando por os empilhar em coluna. Noutro - Os Homens Invasivos -, vêem-se ao longe três personagens esquivas que saem de um alçapão aberto em pleno campo para acabarem a fugir de algo cuja presença não chega a materializar-se. Noutro ainda - Anomalia Marítima -, sugere-se uma continuação da narrativa dos "homens invasivos", quando estes aparecem a atravessar um lago com qualquer coisa não totalmente discernível no encalce do barco em que viajam.
Numa fotografia - A Mola Paleolítica -, um grupo posa ao lado de um pedaço de ferro retorcido e enferrujado como se se tratasse de um achado da maior importância. Noutra - O Transporte da Pedra -, seis presenças diminutas tentam arrastar com cordas um monólito gigantesco.
A desproporção de escalas entre o humano (infinitamente pequeno) e o natural (infinitamente grande), numa relação muitas vezes artificialmente manipulada, é comum no trabalho destes artistas. Surge como principio desestabilizador, origem de paradoxos e subtons de humor.

Eflúvio Magnético
LISBOA Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59. Tel.: 213 430 205. Inauguração hoje, às 22h00. De 4.ª a sáb., das 19h às 23h. Até 30 de Abril. Entradas a 1 euro (visitas guiadas para escolas por marcação - entrada gratuita).

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