Ahmet Ertegun Sem ele a música americana não seria a mesma

Fundador da Atlantic Records, revelou Aretha Franklin, Ray Charles ou John Coltrane

Sem Ahmet Ertegun, a música popular americana não seria tal como hoje a conhecemos. Soa a hipérbole, mas é um facto. Fundador da Atlantic Records, elevou a soul e o r&b a música de todo um país, não apenas da comunidade negra, e com a chegada à editora do seu irmão Nesuhi, produtor de jazz, acolheu e divulgou gigantes como Ornette Coleman, John Coltrane e Charlie Mingus. Morreu ontem em Nova Iorque, aos 83 anos, depois de dois meses em coma.A 29 de Outubro, Ertegun sofreu uma queda no backstage de um concerto dos Rolling Stones, para celebrar o 60.º aniversário de Bill Clinton, cujas sequelas o deixariam em coma. Mesmo octogenário, mantinha uma actividade profissional regular e o gosto pela boémia - era frequente encontrá-lo em concertos ou a aproveitar a vida nocturna nova-iorquina.
Filho de um embaixador turco, trocou a vida académica - foi estudante de Filosofia Medieval - e uma carreira como diplomata pela música, paixão crescente desde que o irmão o levara, aos 9 anos, a um concerto de Duke Ellington e Cab Calloway. Amante de jazz e do blues, fundaria em 1947, aos 22 anos, a Atlantic, a mais importante editora norte-americana até ao nascimento da Motown. Recrutaria nos anos seguintes Ruth Brown, o primeiro grande sucesso da editora, e patrocinaria a revelação de Aretha Franklin e de Ray Charles, que descobrira nas frequentes incursões pelo circuito de bares da comunidade negra, onde começava a nascer algo que o futuro conheceria como soul.
O seu constante entusiasmo pelo fenómeno musical e a defesa da integridade artística dos seus músicos tornou-o uma figura à parte na indústria musical norte-americana, respeitada por músicos, colegas e rivais. Eclético e atento às mudanças do seu tempo, levaria para a Atlantic bandas britânicas como os Rolling Stones, os Cream ou os Led Zeppelin e revelaria os seminais Buffalo Springfield de Stephen Stills e Neil Young - mais tarde, seria ele a convencer este último a juntar-se aos Crosby, Stills & Nash.
Mick Jagger recordou à BBC "um homem maravilhoso, muito espirituoso e um grande contador de histórias. Será recordado com afecto por todos os que o conheceram". Foi contudo Jan Wenner, o fundador da revista Rolling Stone, que, também à BBC, melhor definiu a estatura do seu percurso: "Era provavelmente a personalidade mais reverenciada e respeitada da música popular americana da era moderna." A simples citação dos nomes de Aretha Franklin, Ray Charles, Otis Redding, The Drifters, John Coltrane, Led Zeppelin ou Buffalo Springfield, todos revelados por ele na Atlantic, confirma o estatuto.

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