Cavalos domésticos tiveram origem mais diversa do que se pensava

O estudo do ADN mitocondrial de 318 cavalos de 25 raças diferentes, incluindo o Mustang americano, revelou dados novos sobre a árvore genealógica do cavalo doméstico. Terão sido precisos 77 tipos diferentes de éguas, com mapas genéticos diferenciados para chegar aos cavalos domésticos que temos hoje, afirma uma equipa formada por investigadores ingleses e alemães. O artigo em que explicam a teoria sobre a ascendência do cavalo doméstico é publicado hoje pela revista científica norte-americana "Proceedings of the National Academy of Sciences".A biologia evolutiva e a arqueologia concordaram durante anos que o fenómeno de domesticação do cavalo teria sido muito restrito a uma determinada localização geográfica e temporal, em que estariam envolvidas variedades muito restritas de cavalos selvagens. Até que, no ano passado, uma equipa liderada por Carles Vilà, do Departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Uppsala, na Suécia, revelou, num artigo publicado na revista "Science", que o ADN mitocondrial de 191 cavalos domésticos revelava uma variação genética maior do que seria de esperar. Isso só podia querer dizer que o processo de domesticação teria envolvido não só mais variedades selvagens do que se pensava, como mais grupos humanos e localizações geográficas mais diversas. Uma equipa liderada por Thomas Jansen, do Biopsytec Analytik, na Alemanha, volta a reforçar a ideia de uma origem do cavalo doméstico que envolveu mais variedades selvagens do que se pensava: "Sequenciámos ADN mitocondrial de 318 cavalos de 25 espécies orientais e ocidentais, incluindo o Mustang americano. Juntando estes dados a outros previamente disponibilizados, dispomos de um total de 652 sequenciações de cavalos, o que faz desta base de dados a maior alguma vez utilizada", dizem os autores no artigo hoje publicado na "Proceedings of the National Academy of Sciences".O ADN mitocondrial recolhido e sequenciado pela equipa foi extraído das raízes dos pêlos das crinas de 25 espécies na Áustria, Grã-Bretanha, Alemanha, Marrocos, Estados Unidos, Espanha e Portugal, onde a equipa analisou a linhagem genética do cavalo do Sorraia. A equipa identificou mais de 90 grupos genéticos diferenciados, que podem ser divididos em 17 grupos ou conjuntos filogenéticos. Esses grupos foram identificados através de características genéticas de várias espécies selvagens já há muito estudadas - tais como o cavalo de Przewalski, uma espécie ameaçada originária das estepes mongóis e considerado o último cavalo selvagem do mundo, cavalos da Europa do norte, e ainda espécies ibéricas e do nordeste africano. O ADN mitocondrial é apenas herdado da mãe, pelo que é muito usado para estudar a evolução das espécies, uma vez que funciona como uma espécie relógio molecular. Como não sofre recombinação com o ADN do pai, tem uma taxa de mutações diferente da do ADN do núcleo da célula, que os cientistas usam como uma escala para traçar uma árvore genealógica genética- "De acordo com as mutações presentes nas amostras de ADN mitocondrial [das variedades de cavalos analisadas] seriam necessárias 77 éguas férteis selvagens para originar estes grupos genéticos", diz a equipa num artigo publicado na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences". Conclusão: "A variedade genética destas 77 éguas leva-nos a concluir várias populações distintas de cavalos estiveram envolvidas no processo de domesticação. Tão polémica como a origem dos primeiros cavalos domésticos é a história da arte de domesticar, explica ainda o artigo. Existem registos pouco claros de domesticação de cavalos na Ibéria e Euroásia, que remontam a 4500 a.C. Mas os registos mais fidedignos apontam para 2000 a.C. quando o cavalo começou a ser usado para puxar carroças funerárias, desde a Grécia à China.

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