Um seguro para corais: México experimenta sistema pioneiro para salvar recifes

Para ajudar a preservar os recifes, os hotéis e outros comércios locais – protegidos de desastres naturais pelos corais – pagarão as apólices do seguro que os indemnizará caso sejam afectados. O valor será utilizado na reparação das praias e dos recifes, numa extensão inicial de 60 quilómetros.

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Os corais na Grande Barreira, na Austrália, onde mais de dois terços dos corais estão a morrer Reuters/HO

Um novo esquema para tentar proteger os recifes de corais – que estão em risco sobretudo devido às alterações climáticas – está a ser testado no México. Trata-se do primeiro sistema de seguros (cujas apólices serão pagas pelo Governo e por hotéis locais) que tem como objectivo proteger o recife de corais na costa de Cancún, pertencente ao recife de corais das Caraíbas. Uma das vantagens dos corais é a protecção que oferecem em caso de tempestades e outros desastres naturais, diminuindo os estragos nos comércios à beira-mar, daí que sejam os hotéis a pagar a apólice e a receber uma indemnização se o recife for afectado por causas naturais.

A cobertura será feita pela seguradora Swiss Re, uma das maiores companhias de seguros a nível mundial, naquela que é, provavelmente e de acordo com a Bloomberg, a primeira vez que uma estrutura natural fica protegida por uma seguradora. Em caso de desastre natural, a seguradora indemnizará os hotéis que se encontram à beira-mar para que possam fazer os reparos necessários à praia e os reparos possíveis aos próprios corais — o que incentivará também os proprietários dos hotéis a preservarem o recife.

Com o risco crescente provocado pelas alterações climáticas (como cheias, furacões e outros desastres naturais), este seguro alivia o orçamento do governo mexicano, que era até agora responsável pelos custos provocados por esses fenómenos e ainda pela protecção dos recifes.

Neste programa pioneiro – em que também participa a associação ambiental norte-americana Nature Conservancy – as instituições turísticas locais pagarão, em conjunto, entre 867 mil euros a seis milhões de euros pelas apólices do seguro, que protegerá uma extensão de areal e de recife correspondente a 60 quilómetros.

Se, por outro lado, alguma tempestade danificar o recife e as praias, a seguradora pagará entre 21 a 60 milhões de euros. Estes pagamentos serão, segundo o jornal britânico Guardian, usados para restaurar o recife de corais – construindo, por exemplo, estruturas artificiais que ajudem na sua preservação. Os corais podem ser removidos temporariamente, durante semanas ou meses, para que possam ser regenerados, sendo posteriormente devolvidos ao seu sistema natural.

Os corais são seres vivos. Surgiram há cerca de 400 milhões de anos e são formados por múltiplos pólipos que se alinham lado a lado, segregando o esqueleto de carbonato de cálcio. Com o passar de milhares de anos, os recifes vão-se formando. Para além da sua magnificência, os recifes de corais ajudam a amortecer o impacto das ondas durante tempestades, daí que sejam aliados na diminuição dos estragos provocados nas margens.

A degradação das coloridas colónias de corais de superfície não é novidade: nos últimos anos tem-se assistido ao seu branqueamento e destruição, resultado não só da acção humana mas também das alterações climáticas, poluição e acidificação dos oceanos.

Os recifes de corais são como florestas tropicais dos mares: albergam milhares de espécies aquáticas (sobretudo peixes) e são uma parte importante dos ecossistemas marinhos, ajudando ainda a minimizar o impacto de desastres naturais e a potenciar o rendimento, criando empregos associados ao turismo. Se a aplicação deste seguro tiver resultados positivos, o sistema poderá ser replicado no resto do recife das Caraíbas ou a outros, como os da Grande Barreira de Coral, na Austrália – onde mais de metade dos corais está em risco.

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