Quinoa, a genética fará dela uma cultura do futuro?

Identificado um gene responsável pela produção de substâncias químicas que dão um sabor amargo às sementes.

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A planta da quinoa Linda Polik/KAUST

A quinoa, um grão sagrado dos incas, antiga civilização dizimada pelos conquistadores espanhóis, pode tornar-se no futuro uma fonte de alimento cada vez mais importante graças aos segredos genéticos acabados de revelar na descodificação do seu genoma.

A equipa de cientistas responsável pelo trabalho identificou um gene que pode ser manipulado para que nos vejamos livres do sabor natural amargo dos grãos e abrir caminho para uma maior disseminação comercial desta planta.

A quinoa (Chenopodium quinoa) já cresce em condições ambientais duras, como solos salinos e de fraca qualidade, em altitude e sob temperaturas baixas, o que significa que floresce em sítios onde os cereais comuns, como o trigo e o arroz, têm dificuldade de o fazer. Mas a presença de substâncias químicas tóxicas e amargas nas suas sementes, chamadas “saponinas”, tem sido um dos obstáculos para o seu cultivo extenso.

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Planta da quinoa Mark Tester/KAUST

O biólogo Mark Tester, da Universidade de Ciência e Tecnologia do Rei Abdullah, na Arábia Saudita, disse que, durante o trabalho de descodificação do genoma de uma variedade chilena da quinoa, foi identificado um gene que comanda a produção de saponinas na quinoa.

Hoje, o grão da quinoa tem de ser lavado e seco depois de colhido, para remover as saponinas. “A quinoa é bastante subutilizada”, considerou Mark Tester, que coordenou a investigação publicada na última edição da revista Nature. “É altamente nutritiva, tem um teor de proteínas elevado que, e isto é importante, tem um bom equilíbrio de aminoácidos, o que é invulgar nos nossos principais grãos. Não tem glúten e tem muitas vitaminas e minerais.”

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Planta da quinoa Linda Polik/KAUST

O aumento da produção de quinoa pode melhorar a segurança alimentar do planeta, dado o crescimento incessante da população humana, acrescentou Mark Tester.

No entanto, pode haver desvantagens em reduzir as saponinas, como o eventual aumento da susceptibilidade a infecções fúngicas ou da predação de aves.

A quinoa pode ser consumida da mesma maneira que o arroz e o trigo. Pode ser cozinhada e servida como estes cereais, ou ser transformada em massa, incluída em sopas, comida em flocos ou fermentada para fazer cerveja ou “chicha”, uma bebida dos Andes.

Para os incas, esta planta era sagrada e chamavam-lhe “grão-mãe”. Durante a conquista espanhola da América do Sul, os espanhóis acabaram com o cultivo de quinoa devido ao seu uso em cerimónias religiosas indígenas. Durante algum tempo, o cultivo de quinoa foi proibido e os incas eram obrigados a cultivar trigo.

Globalmente, a quinoa ainda é uma cultura menor, semeada sobretudo no Peru e na Bolívia. Nos últimos anos, tornou-se uma moda nos países ocidentais, principalmente como um alimento saudável.

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