Quanto custou o derrame da plataforma Deepwater Horizon à natureza?

Um grupo de cientistas quis saber que valor teria o impacto do maior derrame de petróleo da história. O valor atribuído resulta de inquéritos a mais de 112 milhões agregados familiares dos EUA.

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Combate ao fogo na plataforma petrolífera Deepwater Horizon a 21 de Abril, o dia seguinte à explosão Guarda Costeira dos EUA/Reuters

O derrame de petróleo no golfo do México em Abril de 2010, em águas dos Estados Unidos, foi o maior de sempre. Escaparam cerca de 3,2 milhões de barris de petróleo do poço no golfo, que ficou aberto quando explodiu a plataforma Deepwater Horizon, da petrolífera britânica BP. Mas qual foi o impacto provocado nos recursos naturais? Agora, uma equipa de cientistas norte-americanos calculou quanto é que as pessoas estariam dispostas a pagar pelos danos na natureza devido ao acidente. A conta ficaria em cerca de 16.000 milhões de euros.

Estávamos em 20 de Abril de 2010 quando a plataforma Deepwater Horizon, 1500 metros abaixo da superfície do oceano, explodiu e se afundou. Morreram 11 pessoas e câmaras subaquáticas revelaram que petróleo e gás se espalharam pelo fundo do oceano, a 42 milhas náuticas de distância da costa do estado do Louisiana, nos EUA.

A seguir a esta catástrofe, os trabalhadores da BP, da empresa de perfuração marítima Transocean (proprietária do equipamento da plataforma Deepwater Horizon) e agências governamentais norte-americanas juntaram-se para controlar a dispersão do petróleo. Muitos cientistas foram também para a região do golfo do México para avaliar as consequências deste derrame.

Remover o petróleo derramado no mar não é propriamente um trabalho fácil, porque o petróleo é hidrofóbico (não se mistura com a água) e flutua à superfície do oceano em forma de mancha. Além disso, as correntes do oceano e a velocidade dos ventos também não ajudaram à limpeza. Os trabalhos prolongaram-se durante 87 dias e milhares de pessoas participaram nas operações de remoção do petróleo. Em Julho de 2010, quando o petróleo deixou de se alastrar, estimou-se que tinham sido derramados cerca de 3,2 milhões de barris de petróleo. Durante o derrame, formou-se uma mancha de petróleo que atingiu cerca de 22 milhas de comprimento.

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Mancha de petróleo em Maio de 2016 Daniel Beltra/Reuters

Os efeitos do derrame no ecossistema do golfo do México foram visíveis e as imagens chegaram até nós: desde pelicanos e peixes cobertos de petróleo até tartarugas sufocadas nas praias. A morte de aves marinhas também foi numerosa e os corais de profundidade ficaram com danos nos seus tecidos e cobertos por bocados de petróleo. O número de mortes de golfinhos aumentou de 63 por ano, entre 2002 e 2009, para 200 por ano desde Abril de 2010, de acordo com a agência Reuters em 2015. Um estudo da agência para os oceanos e a atmosfera dos EUA (NOAA), de 2016, também referia que 80% das gravidezes dos golfinhos não chegavam ao fim, devido à exposição ao petróleo.

Em Julho do ano passado, a BP anunciava que a conta final que tinha de pagar por esta catástrofe ascendia a cerca de 57.000 milhões de euros. Os custos incluíam danos materiais, perdas económicas, a limpeza ou custos médicos. Mas agora surge a primeira avaliação mais abrangente para os custos financeiros relativos apenas aos danos nos recursos naturais causados pelo derrame – ou, dito de outra forma, que valor atribuem as pessoas à natureza na zona..

Publicado na última edição da revista Science, o estudo refere que os danos ficaram em cerca de 17.200 milhões de dólares (cerca de 16.000 milhões de euros). Se fizermos uma comparação com o produto interno bruto (PIB) português – que anda à volta de 170.000 milhões de euros por ano –, então o custo só para a natureza do derrame da Deepwater Horizon corresponde a cerca de um décimo da riqueza produzida por ano por Portugal.

Desde Maio de 2010 que 18 investigadores reunidos pela NOAA vinham a calcular esse valor. Para chegarem mesmo a ele, fizeram um inquérito com o objectivo de determinar o valor de medidas de prevenção, caso uma catástrofe com as mesmas proporções venha a acontecer no futuro.

Resultados como um alerta

Os cientistas pediram a milhões de norte-americanos para responder a um inquérito com uma entrevista presencial e por e-mail. Todos os participantes receberam da parte dos cientistas informações sobre o estado do golfo do México antes da catástrofe, o que esteve na origem do acidente, os danos provocados aos recursos naturais e como se poderá evitar um acidente destes no futuro. No inquérito, havia ainda descrições dos danos em praias, zonas pantanosas, peixes e corais.

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Pelicanos afectados pelo acidente na Deepwater Horizon SEAN GARDNER

Depois, os participantes votaram contra ou a favor do programa de prevenção apresentado e disseram qual o valor que estariam dispostos a dar, se outro acidente semelhante acontecesse. Os valores variaram entre 14 euros e 404 euros, por participante. No final, cada um, em média, daria 142 euros (quando lhes foram mostrados danos mais graves nos recursos naturais) e 126 euros (quando foi descrito um nível de destruição mais leve). Segundo os inquéritos a 112.647.215 agregados familiares, vieram então a contabilizar-se cerca de 16.000 milhões de euros, tendo em consideração a média mais alta dos 142 euros.

“Os resultados são um alerta sobre o que podemos dizer do valor que as pessoas realmente dão aos recursos marinhos e ecossistemas”, afirma Kevin Boyle, um dos autores do artigo e professor na Universidade de Agricultura e Ciências da Vida do Instituto de Tecnologia da Virgínia (EUA), num comunicado da instituição. “A nossa estimativa pode servir de guia para os decisores políticos e a indústria do petróleo para determinar não apenas o custo dos esforços de limpeza do derrame da Deepwater, mas também o valor que deve ser investido na protecção de danos de futuros derrames de petróleo.”

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