Projecto sobre a "memória" das células vence prémio Crioestaminal 2009

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O holandês Lars Jansen é investigador principal no Instituto Gulbenkian da Ciência desde 2008 DR

O holandês Lars Jansen propõe uma espécie de perseguição a um nível molecular para perceber como se transmite a informação que faz com que uma célula se lembre do papel que vai desempenhar no organismo. O que se pretende é compreender "os factores hereditários não genéticos (ou epigenéticos) que estão na base de vários processos biológicos.

O projecto de investigação que venceu a edição deste ano do Prémio Crioestaminal 2009 pertence a Lars Jansen, investigador principal do Instituto Gulbenkian da Ciência. O cientista holandês trabalha em Portugal com um grupo de cinco pessoas que estuda a "hereditariedade dos mecanismos epigenéticos".

Segundo o comunicado divulgado hoje, Lars Jansen vai procurar perceber como é que as células herdam a memória de outras células quando se dividem. Ou seja, como é que, por exemplo, uma célula muscular é capaz de manter a "memória" da função que tem quando se divide dando origem a duas novas células musculares? "A identidade de cada célula é herdada ao longo de divisões celulares, o que significa que algo é transmitido para além dos genes [os genes de uma célula muscular são os mesmos que encontramos, por exemplo, num neurónio]. Este é um problema muito antigo em biologia que ainda não foi resolvido. Compreender estes factores hereditários não genéticos é o foco principal deste projecto", explica o investigador no comunicado. No mesmo documento, o investigador adianta que será dedicada especial atenção à proteínas histonas que se ligam ao ADN (ou seja, aos genes) e que serão "boas candidatas para se "lembrarem" da dita identidade celular". "Na verdade existem defeitos nas histonas que dão origem a células que perderam a sua identidade, tal como acontece, por exemplo, em cancros. Nós empregamos uma técnica especial de "rotulagem", que nos permite literalmente observar as proteínas a serem transmitidas de geração em geração", refere ainda Lars Jansen concluindo que, mais do que simplesmente "olhar" para as histonas, pretende "fisicamente isolá-las durante as fases críticas do ciclo de divisão celular".

Apesar de se tratar de um projecto de investigação básica e, por isso, não procurar uma aplicação clínica directa, as conclusões deste projecto poderão ajudar a compreender mecanismos que estarão associados a uma série de doenças (como o cancro) e, a longo prazo, contribuir para futuras terapias.

Não é a primeira vez que o trabalho de lars Jansen é reconhecido. O cientista já foi distinguido com o Prémio europeu de Instalação Marie Curie, O Prémio de Instalação da EMBO (European Molecular Biology Organisation) e já mereceu também um financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

O Prémio Crioestaminal é atribuído pela Associação Viver a Ciência que quer distinguir o "melhor projecto de investigação não área de Ciências Biomédicas a ser desenvolvido em Portugal". Na lista de cientistas já distinguidos com este prémio encontram-se nomes como Sandra de Macedo Ribeiro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra, Hélder Maiato, do Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto, Mónica Bettencourt Dias, líder de um grupo de investigação no Instituto Gulbenkian de Ciência, e Lino Ferreira, investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e do Biocant – Centro de Inovação e Biotecnologia.

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