Jovem há 123 dias em morte cerebral deu à luz gémeos

O caso aconteceu no Brasil e corresponde a um dos mais longos períodos de gestação com a progenitora em morte cerebral.

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daniel rocha

Aos 21 anos, Frankielen Zampoli estava grávida de gémeos e sofreu uma hemorragia cerebral. Mesmo depois de lhe ter sido declarada morte cerebral, a família e os médicos do Hospital Nossa Senhora do Rocio, em Curitiba, no Brasil, decidiram mantê-la viva para tentar salvar os dois bebés. A 20 de Fevereiro, quatro meses depois, os gémeos Azaphi e Ana Vitória nasceram com vida.

Frankielen teve morte cerebral três dias depois de lhe ter sido diagnosticada uma hemorragia cerebral grave. A jovem brasileira estava no segundo mês de gestação e a equipa médica teve de manter o corpo ligado a máquinas de suporte de vida para que os bebés se pudessem desenvolver sem complicações.

“Como a paciente estava grávida de gémeos, foram mantidos os suportes necessários para a manutenção dos órgãos, no sentido de permitir o desenvolvimento da gestação até o nascimento dos bebés”, lê-se numa nota divulgada pelo Hospital Nossa Senhora do Rocio, onde Frankielen ficou internada na unidade de cuidados intensivos.

“Nós precisávamos de manter a pressão adequada da mãe, a oxigenação adequada e manter todo o suporte hormonal e nutricional dela”, conta ao G1 o médico Dalton Rivabem. A a gravidez foi monitorizada 24 horas por dia por médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde.

Os bebés nasceram aos sete meses de gravidez, com saúde equiparável aos prematuros dessa idade; agora, encontram-se na incubadora, sobretudo devido ao risco de infecção. Ana Vitória nasceu com 1,4Kg e o seu irmão, Azaphi, com 1,3Kg. Os gémeos aparentam estar saudáveis mas os médicos afirmam que ainda é cedo para saber se vão ter um desenvolvimento normal ou se poderá haver mazelas.

“Ela foi guerreira até depois da morte, conseguiu dar vida aos filhos dela. Vê-los, agora, é lindo”, afirmou a mãe da jovem e avó dos gémeos, Ângela Silva, ao Globo. Depois do nascimento das crianças, a família decidiu autorizar a doação de órgãos de Frankielen.

Em Portugal, ocorreu um caso similar em Junho do ano passado: 15 semanas depois de lhe ter sido declarada morte cerebral, uma mulher deu à luz um bebé, que nasceu com 32 semanas de gestação. Aconteceu no Hospital de São José e representa, até à data, o período mais longo registado em Portugal de gestação de um feto por parte de uma mãe em morte cerebral. “É espantoso. É raríssimo em Portugal e no mundo”, disse, em Junho, o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Getal, Luís Graça, considerando o feito (e também o feto) “um recorde”.

Entre 1982 e 2010 registaram-se 30 casos em que foi possível manter a gestação de fetos em mulheres em morte cerebral. Ainda assim, destes casos, só 12 crianças sobreviveram. Estes dados encontram-se num artigo científico, publicado em 2013 pelo International Journal of Critical Illness & Injury Science, em que também é referido que o maior período de gestação associado a uma progenitora em suporte de vida era de 110 dias.

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