Insecto australiano usado como arma contra a invasão das acácias

Primeiros insectos foram libertados em Portugal em 2015, em Julho e Agosto deste ano seguem-se novas libertações.

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A investigadora Elizabete Marchante Paulo Novais/Lusa
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Galhas formadas pelo insecto australiano nas acácias Paulo Novais/Lusa

Um minúsculo insecto australiano, com dois a três milímetros, foi utilizado pela primeira vez em 2015 para ajudar a controlar as acácias-de-espigas e, este ano, espera-se a libertação de alguns milhares por toda a costa portuguesa para lutar contra essa espécie invasora.

A acácia-de-espigas, uma das espécies de acácias mais frequentes em Portugal, está presente um pouco por todo o território, principalmente no litoral do Centro e Norte do país, onde se alastrou face ao seu “grande poder de reprodução”, chegando-se a contabilizar milhares de sementes por metro quadrado ao seu redor, disse à agência Lusa Elizabete Marchante, investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Universidade de Coimbra.

Para combater a espécie invasora, investigadores do CFE e da Escola Agrária de Coimbra encontraram num pequeno insecto australiano (Trichilogaster acaciaelongifoliae) “um bom candidato”. Originário do mesmo país da acácia-de-espigas, o insecto tem a especificidade de formar galhas apenas nas gemas florais desta planta e em mais nenhuma outra (ao longo de várias anos, foram feitos testes em diferentes plantas nativas de Portugal para poder ser introduzida a espécie).

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O insecto australiano Trichilogaster acaciaelongifoliae Paulo Novais/Lusa

“Os galhadores são insectos que conseguem colocar ovos” nas gemas florais, fazendo depois com que a planta “desenvolva uma estrutura, que é a galha e, dentro dessa galha, o insecto vai-se desenvolvendo e completando o seu ciclo de vida”, explicou Elizabete Marchante.

Fora das galhas, os insectos duram dois ou três dias, tempo em que procuram novas gemas para colocar os ovos (podem chegar a colocar 300) e começar o ciclo de vida, que dura um ano.

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As galhas formadas nas acácias pelos insectos australiano Paulo Novais/Lusa

A formação das galhas nas gemas florais “diminui a capacidade da planta para produzir novas sementes”, sublinhou a especialista em plantas invasoras, acrescentando que estas também “afectam o próprio vigor” da acácia.

O insecto já foi testado na África do Sul, onde a acácia-de-espigas também é invasora. Naquele país, ao fim de dez anos registou-se “uma redução de mais de 80% da produção de sementes”.

Em Portugal, espera-se que demore mais tempo até se começarem a ver acácias cheias de galhas, visto que o insecto tem de se adaptar à mudança de hemisférios, disse a investigadora.

Em Novembro de 2015, a primeira geração foi introduzida, com a libertação de algumas centenas em vários locais ao longo da costa portuguesa, entre São Pedro de Moel, distrito de Leiria, e São Jacinto, Aveiro.

Em 2016, foram libertados “mais de mil”, de Vieira de Leiria a Esposende. E agora os investigadores esperam poder distribuir “milhares” destes pequenos insectos australianos em áreas protegidas e de rede Natura “ao longo de toda a costa”, de Norte ao Sul do país, num projecto financiado por fundos comunitários, que envolve diferentes parceiros.

As novas introduções na natureza começam em Julho e Agosto, e dependem do número de insectos da nova geração criada, após a introdução nos anos transactos, sendo que poderão ser também trazidos insectos da África do Sul, para libertar em Novembro e Dezembro.

Para Elizabete Marchante, este agente de controlo natural poderá ser uma ferramenta para controlar esta espécie específica de acácias, uma das mais presentes no território nacional. “Será uma grande ajuda”.

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