Há dez mil anos havia canibais a 700 quilómetros de Portugal

Antropólogos espanhóis encontraram numa gruta em Alicante vestígios de marcas de dentes humanos em ossadas humanas, entre outros sinais de canibalismo.

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A Pensínsula Ibérica vista do espaço Sistema Copérnico Sentinela/2016

Cientistas espanhóis encontraram sinais de canibalismo durante o período do Mesolítico, há cerca de 10.000 anos, numa gruta do Sul de Espanha. O estudo, publicado este mês numa revista científica, afirma que foram encontradas marcas de dentes humanos em ossadas de outros indivíduos, assim como sinais de terem sido usados instrumentos de pedra para esfolar ou desossar animais. A dúvida dos investigadores é se as práticas canibais faziam parte de algum tipo de ritual ou se corresponderam a uma solução de recurso num período de fome extrema.

A investigação foi coordenada pelo antropólogo Juan Morales-Pérez, da Universidade de Valência, e teve lugar nas Grutas de Santa Maira, em Alicante, a cerca de 700 quilómetros da actual fronteira com Portugal. A datação por carbono 14 feita pelos cientistas mostra que os vestígios encontrados datam de há 10.000 a 9000 anos.

Na gruta foram localizados ossos de 30 humanos com marcas de terem sido comidas. Mas apenas os restos de crânios de três indivíduos: um corpulento, outro mais pequeno e uma criança, que era o único dos três crânios que não tinha marcas de canibalismo.

Entre as provas de canibalismo resultantes da análise, durante vários anos, dos ossos encontrados na gruta de Alicante, encontram-se cortes feitos por instrumentos de pedra, que também eram usados para desossar ou esfolar animais, bem como sinais de calor, mostrando que estes terão sido queimados ou pelo menos aquecidos, provavelmente para facilitar os desmembramento dos corpos. Outra prova é o facto de os ossos humanos terem sido encontrados enterrados no fundo da gruta, juntamente com ossos de animais que também tinham sido comidos.

A prova mais significativa são as marcas de dentes humanos encontradas nos ossos, indicando que estes terão sido roídos. O antropólogo Morales-Pérez admite ser difícil distinguir mordidas humanas das de outros animais, mas diz ter encontrado sinais comuns de mastigação humana, que também foram analisados em ossos de veados ou coelhos enterrados no mesmo local.

O artigo científico em que são apresentadas estas conclusões foi publicado este mês na revista Journal of Anthropological Archaeology com o título “Prática funerária ou delicatessen? Restos humanos com marcas antrópicas no Mesolítico no Oeste do Mediterrâneo”. A grande dúvida é perceber se se tratou de uma prática ritualística funerária ou de uma solução de recurso, por exemplo motivada por um período de fome extrema. O estudo concluiu que não havia sinais de violência nos restos humanos encontrados, o que indica que provavelmente estas pessoas foram comidas depois de mortas.

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