Dois fósseis vieram lançar dúvidas sobre origem da linhagem humana em África

Onde apareceram os primeiros indivíduos após a separação entre os ramos evolutivos dos humanos e dos chimpanzés? Em vez de África, um estudo diz agora que pode ter sido no Leste do Mediterrâneo.

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A mandíbula do Graecopithecus freybergi Wolfgang Gerber/Universidade de Tubinga

Fósseis encontrados na Grécia e na Bulgária de uma criatura parecida com um símio que viveu há 7,2 milhões de anos podem ter alterado de forma fundamental a nossa compreensão sobre a origem humana, lançando dúvidas sobre o facto de a linhagem evolutiva que conduziu até nós ter surgido em África.

Segundo uma equipa internacional de cientistas, a criatura, com o nome científico Graecopithecus freybergi e de que se tem apenas uma mandibula inferior e um dente isolado, pode ser o membro mais antigo conhecido da linhagem humana iniciada depois de ter ocorrido a separação evolutiva da linhagem que levou aos chimpanzés, os nossos parentes mais próximos.

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O dente pré-molar do Graecopithecus freybergi Wolfgang Gerber/Universidade de Tubinga

A mandíbula, que tem dentes, foi desenterrada em 1944, perto de Atenas. E o dente isolado, um pré-molar, foi encontrado no Sul da Bulgária, em 2009. Os investigadores examinaram os ossos com tecnologias sofisticadas, incluindo tomografia computorizada, e determinaram a sua idade através da datação das rochas sedimentares onde os fósseis foram encontrados.

E descobriram, segundo o trabalho que foi publicado em dois artigos esta semana na revista Plos One, que o desenvolvimento da raiz dos dentes tinha características humanas que não se observam nos chimpanzés e nos seus antepassados, o que coloca o Graecopithecus dentro da linhagem humana, conhecida como hominíneos. Até agora, o hominíneo mais antigo conhecido era o Sahelanthropus, que viveu entre há seis e sete milhões de anos no Chade.

Há muito tempo que o consenso científico aponta para que os hominíneos tenham tido origem em África. Tendo em conta que o Graecopithecus é dos Balcãs, a região Leste do Mediterrâneo pode ter assim dado origem à linhagem humana, diz a equipa de investigadores, coordenada por Madelaine Böhme (da Universidade de Tubinga, na Alemanha) e Nikolai Spassov (da Academia Búlgara de Ciências).

A descoberta de forma alguma põe em causa que a nossa espécie, o Homo sapiens, apareceu primeiro em África há cerca de 200 mil anos e depois migrou para outras partes do mundo, sublinha a equipa. “A nossa espécie evoluiu em África. A nossa linhagem é que pode ter sido assim”, disse a paleoantropóloga Madelaine Böhme, acrescentando que esta descoberta “pode alterar radicalmente a nossa compreensão da origem dos primeiros hominíneos”.

O Homo sapiens é apenas o último de uma longa linha evolutiva dos hominíneos, que começou maioritariamente com espécies parecidas com símios, seguidas de uma sucessão de espécies que adquiriram cada vez mais traços humanos ao longo do tempo.

O paleoantropólogo David Begun, da Universidade de Toronto (Canadá) e também da equipa, considera que a possibilidade de a separação evolutiva entre a linhagem que levou aos humanos e a linhagem que levou aos chimpanzés ter ocorrido fora de África não é incongruente com o aparecimento posterior aí de espécies de hominíneos. “Sabemos que muitos mamíferos de África tiveram, na realidade, origem na Eurásia e dispersaram-se para África na altura em que viveu o Graecopithecus”, disse David Begun. “Por que não também o Graecopithecus?”

A espécie Graecopithecus é misteriosa porque os seus fósseis são muito parcos. Era sensivelmente do tamanho de uma fêmea chimpanzé e vivia num ambiente floresta e pastagem relativamente seco, semelhante à savana africana actual, ao lado de antílopes, girafas, rinocerontes, elefantes, hienas e javalis. 

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