Consórcio liderado por empresa portuguesa ganha 2,6 milhões com teste para antibióticos

Kit permite obter resultados sobre a susceptibilidade dos microorganismos aos medicamentos ao fim de uma ou duas horas.

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Kit FAST-bact DR

O consórcio europeu FAST-bact, liderado pela empresa portuguesa FasTinov, foi premiado com 2,6 milhões de euros de fundos comunitários, por um teste rápido à susceptibilidade das bactérias a antibióticos, anunciou esta quarta-feira o gabinete do comissário Carlos Moedas.

O montante é atribuído no quadro do programa FTI – Fast Track to Innovation (via rápida para a inovação, em tradução livre), apoiado pelo programa comunitário de incentivo à ciência e inovação, o Horizonte 2020.

O consórcio, que agrega uma outra empresa portuguesa, a Roboptics, e empresas de Espanha, Itália e Holanda, desenvolveu kits, os FAST-bact, que produzem resultados em poucas horas, permitindo aos médicos melhorarem o tratamento com antibióticos em doentes que têm infecções bacterianas graves, refere, em comunicado, o gabinete do comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas.

A partir de uma amostra de sangue do doente, cada kit consegue avaliar se um antibiótico ou um antifúngico, de primeira linha de tratamento, é o adequado para eliminar a bactéria ou o fungo que está a causar uma infecção grave, ou se, pelo contrário, é resistente ao fármaco e, se o é, qual o mecanismo de resistência desenvolvido pelo microrganismo. Em caso de resistência microbiana, o doente seria rapidamente isolado e evitava-se a propagação da infecção, disse à Lusa uma das fundadoras e coordenadora científica da FasTinov, Sofia Costa Oliveira.

Actualmente, os métodos de diagnóstico usados nos laboratórios dos hospitais apenas permitem saber se um antibiótico ou um antifúngico é eficaz, ou não, ao fim de um a dois dias, respectivamente, uma vez que é necessário esperar que as bactérias ou os fungos cresçam para se obterem resultados, a partir de “um número representativo de células” dos microrganismos, explicou a docente em microbiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, onde germinou o projecto dos kits FAST-bact.

Naquelas circunstâncias, enquanto o médico aguarda pelos resultados, o tratamento administrado, por exemplo mediante os chamados antibióticos de longo espectro, pode não ser o mais acertado, ou a bactéria desenvolve resistência ao antibiótico, e gasta-se fármacos desnecessariamente, assinalou Sofia Costa Oliveira.

O FAST-bact – equipado com um software próprio e um citómetro de fluxo, um aparelho que permite analisar células em suspensão, incluindo de microrganismos – possibilita, ao colocar o medicamento em contacto com o microrganismo, obter resultados ao fim de uma hora, para uma bactéria, e duas horas, para um fungo.

Patentes pedidas

Com as verbas comunitárias obtidas com o programa FTI, o consórcio, que será oficializado no fim de Junho, pretende produzir os kits a larga escala e comercializá-los no mundo, adiantou a investigadora. A patente do protótipo do FAST-bact foi aprovada nos Estados Unidos, aguardando o consórcio que o mesmo suceda na Europa, no Brasil e no Japão, onde o seu registo já foi pedido.

Sem revelar quanto pode custar cada kit, Sofia Costa Oliveira afirmou que se trata de um “preço competitivo”, que permitirá o uso do equipamento por um laboratório de um hospital de pequenas ou grandes dimensões.

Na quarta ronda do FTI, à qual concorreu o consórcio FAST-bact, foram premiados 16 projectos europeus, que se enquadram no princípio de inovação do programa, que totalizam um financiamento de cerca de 36 milhões de euros. Desde que foi lançado, em Janeiro de 2015, o programa Fast Track to Innovation apoiou 62 projectos, para beneficiarem de um total de 134,7 milhões de euros. Quase metade dos beneficiários são pequenas e médias empresas.

As actividades financiadas pelo FTI incluem, nomeadamente, ensaios, acções-piloto e validação de modelos empresariais, em termos de “liderança em tecnologias industriais e facilitadoras”. O programa funciona no biénio 2015-2016, como uma iniciativa-piloto do Horizonte 2020, tendo um orçamento de 200 milhões de euros. Carlos Moedas crê que o FTI contribui “para o êxito de empresas europeias, em particular pequenas e médias empresas, na comercialização de novos produtos e serviços”.

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