As marcas redondas nas costas de Phelps têm um nome: ventosaterapia

Atletas têm vindo a aplicar técnica de vácuo quando sentem dores musculares, embora haja poucos ensaios clínicos sobre a validade do método tradicional muito usado na China.

Foto
Ombro de Michael Phelps com marcas redondas do cupping David Gray

O ar de triunfo de Michael Phelps nas fotografias da madrugada desta segunda-feira, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, é flagrante. O famoso nadador norte-americano venceu a prova de estafetas dos 4x100m livres. Mas foi impossível não reparar também nas marcas redondas e roxas que o atleta tinha no ombro direito e nas costas. As manchas são hematomas, mas, como dizem as notícias de vários jornais internacionais, o que se vê é o resultado do cupping, uma técnica usada na medicina tradicional chinesa e que em português se chama “ventosaterapia”.

O nome ajuda a perceber o princípio do método. A ventosaterapia passa por colocar uma espécie de copos na pele para criar sucção. O processo pode ser feito de várias formas. Uma delas é aquecer o copo e deixá-lo arrefecer colado à pele. Ao arrefecer o copo, o ar lá dentro também arrefece. Por isso, esse ar ocupa menos espaço e provoca vácuo, fazendo o efeito da ventosa. O vácuo faz puxar a pele e, supostamente, aumenta a circulação sanguínea naquela região.

As origens desta técnica são antigas e estão longe de se circunscrever à China. A medicina tradicional defende que esta técnica pode ser usada para tratar a anemia, a artrite, eczemas, dores de cabeça, alergias, entre outros problemas de saúde. Um estudo de revisão da literatura científica publicado na revista PLOS ONE, em 2012, mostrava que este método, aliado a outros da medicina tradicional chinesa, aumentava o número de doentes curados para quatro problemas: a doença viral zona, a paralisia facial, a acne e a espondilose cervical. Mas os autores do estudo, do Centro para a Medicina Chinesa Baseada em Provas da Universidade de Medicina Chinesa, em Pequim, defendiam que “são necessários mais ensaios clínicos rigorosos sobre o uso desta técnica para outras doenças”.

Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Michael Phelps e outros atletas da equipa norte-americana, como o ginasta Alexander Naddour, estão a usar a técnica para aplacar as dores e as inflamações musculares. “Este tem sido o segredo que tenho guardado durante este ano e que me mantém saudável”, disse o ginasta, citado pelo New York Post, adiantando ter comprado online um kit de ventosaterapia por 15 dólares (13,53 euros), e compara este método com massagens e injecções de cortisona: “Tem sido melhor do que qualquer dinheiro que gastei noutra coisa.”

Foto
Alexander Naddour também tem as mesmas marcar que Michael Phelps Dylan Martinez/Reuters

Também Phelps faz questão de fazer propaganda da técnica, com fotografias na rede social Instagram, onde se vê o atleta deitado e a nadadora Allison Schmitt a aplicar-lhe as ventosas nas pernas. Outras celebridades como a actriz Gwyneth Paltrow e o cantor Justin Bieber também usam a ventosaterapia.

Nos últimos anos, alguns estudos apoiaram a ideia de que a técnica reduz as dores no pescoço e nas costas. Mas nem todas essas investigações comparavam a ventosaterapia com outras técnicas na diminuição da dor. E ainda não se tirou o efeito placebo da equação.

“O efeito placebo está presente em todos os tratamentos, e estou certo de que é um factor importante também na ventosaterapia”, disse Leonid Kalichman, um fisioterapeuta doutorado e especialista em dor muscular, que dá aulas na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel, e falou com o jornal norte-americano New York Times. “Um doente pode sentir o tratamento e ter marcas, e isso contribui para o efeito placebo.”

Mas o investigador defende num artigo de Janeiro último que pode haver efeitos fisiológicos reais. “Mecanicamente, a ventosaterapia aumenta a circulação sanguínea, e a nível fisiológico activa o sistema imunitário que estimula as fibras [nervosas] mecanossensitivas, o que leva a uma redução da dor”, lê-se num artigo publicado na revista Journal of Bodywork and Movement Therapies, onde se argumenta que a técnica é não invasiva e barata. “Acreditamos que a técnica deve ser incluída no arsenal da medicina músculo-esquelética. É essencial fazer estudos adicionais para clarificar os mecanismos biológicos e os seus efeitos clínicos.” 

Sugerir correcção
Ler 4 comentários