Perto de 500 elefantes abatidos num Parque Nacional dos Camarões

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Os caçadores furtivos ainda estarão dentro daquele parque nacional AFP

Caçadores furtivos fortemente armados abateram, em dois meses, cerca de 500 elefantes dentro do Parque Nacional Bouba Ndjida, nos Camarões, perto da fronteira com o Chade. A organização IFAW acredita que o número aumentará porque continuam a ouvir-se disparos na zona.

“Estimamos que 480 elefantes tenham sido abatidos no nosso parque” por causa do marfim, disse Mathieu Fometa, daquela área protegida no Norte do país, à AFP. “Formalmente contámos 458 carcaças mas este número pode estar subestimado porque o parque cobre 220.000 hectares e não é fácil obter informação rigorosa”, acrescentou.

Entre domingo e terça-feira, “as nossas equipas contaram, pelo menos, 20 elefantes massacrados” naqueles três dias, disse Fometa. Na quinta-feira passada, um jornalista da AFP viu 12 carcaças de elefantes em três locais do parque nacional. Até ao momento, o Governo não tomou medidas para garantir a segurança na área protegida.

Os caçadores furtivos armados, do Chade e do Sudão, ainda estarão dentro do parque. O som dos disparos continua a fazer-se ouvir, segundo o IFAW (Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal), que encontrou 14 carcaças na última quarta-feira. Por isso, diz, é muito provável que o número de elefantes mortos aumente nos próximos dias.

“A área ainda é muito perigosa para que possamos fazer uma avaliação do massacre ou para salvar as crias que ficaram órfãs e os adultos feridos”, diz a organização, em comunicado. O IFAW tem informações de crias abandonadas depois dos disparos e receia que venham a morrer de fome e sede.

Os caçadores furtivos, muitos deles antigos ou actuais militares, “estão bem armados e bem organizados e nada parece conseguir deter a sua corrida ao marfim”, comentou Celine Sissler-Bienvenu, do IFAW. “Estão a abater uma das populações de elefantes mais vulnerável de África. O marfim destes animais chacinados está a sair de África a um ritmo descontrolado”, acrescentou.

Sissler-Bienvenu disse ainda que os animais mortos “sofrem muito antes de morrer. As armas usadas, as AK-47, estão concebidas para matar uma pessoa com cerca de 80 quilos. Para matar um elefante que pesa 5000 quilos é preciso usar muitas balas”.

O comércio mundial de marfim está proibido mas ainda assim o tráfico não acabou. Durante o ano de 2011, as autoridades de combate ao tráfico dizem ter apreendido mais de 23 toneladas de marfim contrabandeado, o que representará 2500 elefantes, denuncia a organização TRAFFIC. O número de apreensões já é um recorde.

“Em 23 anos de compilação de informações sobre apreensões de marfim para o ETIS [Elephant Trade Information System, rede a funcionar no âmbito da CITES - convenção internacional para o comércio de espécies ameaçadas de espécies selvagens de fauna e flora] este foi o pior ano de sempre para as grandes apreensões. 2011 foi um verdadeiro “annus horribilis” para os elefantes”, comentou Tom Milliken, especialista em elefantes da organização TRAFFIC, especializada no comércio ilegal de espécies, com sede no Reino Unido.

Milliken justifica esta situação com “o aumento da procura na Ásia e o aumento na sofisticação dos grupos criminosos por detrás do tráfico de marfim. A maioria dos contentores com marfim ilegal transportados em navios acaba na China ou na Tailândia”.

O tráfico de marfim está a aumentar drasticamente desde 2007. Normalmente, o marfim sai de África com destino à Ásia e pode viajar por rotas que estão constantemente a mudar.

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