Aplicações de telemóvel que contam os passos deram pistas sobre obesidade

Investigadores norte-americanos usaram dados de mais de 700 mil utilizadores de 111 países que têm apps para contar os passos para estabelecer uma relação com a obesidade

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REUTERS/Darrin Zammit Lupi

Um grupo de investigadores da Universidade de Stanford (nos EUA) analisou os padrões de actividade física de 717 000 mil pessoas que possuem nos seus smartphones aplicações que contabilizam os passos diários. A investigação contou com dados recolhidos de indivíduos em 111 países. De acordo com oestudo publicado esta semana na revista científica Nature, os portugueses dão em média, entre 4500 a 5000 passos diários. 

Os investigadores analisaram indicadores como a idade, género, peso e altura – de cada um dos indivíduos – através da aplicação de actividade física Azumiu Argus, durante um período de 95 dias. Através do cálculo entre o peso e a altura, foi possível obter o índice de massa corporal de cada individuo e estabelecer uma relação entre o nível de actividade física e a prevalência de obesidade. Apesar de incluir dados de 111 países, a equipa centrou a análise em apenas 46 países.

O estudo conclui que nos países em que as pessoas andam aproximadamente o mesmo tempo (ou dão o mesmo número de passos diários) os níveis de obesidade são menores. Por outro lado, nos países em que esta diferença é maior (ou seja, a quantidade de actividade física entre indivíduos é muito variável), os níveis de obesidade tendem a aumentar.

A equipa de Stanford apelidou esta tendência como “desigualdade de actividade” – quanto maior for a diferença entre as pessoas mais activas e as mais sedentárias, os níveis de obesidade daquele país tendem a ser mais elevados. De acordo com este estudo, os portugueses dão em média, entre 4500 a 5000 passos diários. Já o Japão, é o país que regista maior número de passos diários com 6000. 

À BBC, Scott Delp, um dos investigadores afirmou que “este estudo é 1000 vezes maior do que anteriores relativos ao movimento humano”. E o que diferencia este estudo dos restantes? Para Scott Delp um dos principais pontos distintivos é o "rastreamento contínuo da actividade dos indivíduos". 

Para exemplificar a “desigualdade de actividade” os investigadores de Stanford dão o exemplo da Suécia. “A Suécia possui um dos níveis mais pequenos de desigualdade de actividade física”, declarou Tim Althoff, um dos investigadores do estudo e principal autor do artigo publicado na Nature. O facto de a Suécia apresentar um dos menores níveis de desigualdade de actividade física, faz com que tenha um dos menores níveis de obesidade do conjunto de países analisados.

Do outro lado do espectro encontram-se os EUA, com o maior nível de “desigualdade de actividade” de todos os países analisados e, por isso, também o país com os níveis de obesidade mais elevados.

Para os investigadores, um dos factores que terá influência na actividade física das pessoas é a forma como a cidade onde vivem está organizada. Para Jennifer Hicks, uma das investigadoras, as cidades mais “amigas” dos pedestres, registaram um menor número de “desigualdade de actividade”. “Nas cidades que são mais acessíveis para caminhar, todos [os indivíduos] tendem a dar mais passos diários” independentemente do género, idade ou do peso, destacou a investigadora.

Para Scott Delp, este estudo apoiado em dados fornecidos por uma aplicação de um telemóvel “abre portas para novas formas de fazer ciência” a uma escala mais ampla. 

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