Zelensky admite fim da guerra se a Ucrânia não ocupada pela Rússia ficar sob alçada da NATO
Presidente ucraniano sugere que recuperação dos territórios controlados pela Rússia poderá ser alcançada numa fase posterior através da diplomacia.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, abriu a porta ao fim da "fase quente" da guerra da Ucrânia, sugerindo que um acordo para um cessar-fogo seria possível se o país ficar sob o "guarda-chuva" da NATO que permitiria uma negociação diplomática posterior dos territórios controlados pela Rússia.
Numa entrevista à televisão britânica Sky News, Zelensky respondeu a uma questão sobre o plano relatado pela imprensa como sendo o de Donald Trump para solucionar o conflito, trocando o território ocupado pela Rússia pela adesão à NATO.
Para o Presidente ucraniano, um convite do país para a NATO tem de ser feito com reconhecimento "das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas", pois caso assim não fosse "reconheceriam que a Ucrânia é apenas aquele território da Ucrânia (controlado pelo país) e que o outro é parte da Rússia".
Apesar de clarificar que o convite tem de ser para a totalidade da Ucrânia, Zelensky admite uma adesão ucraniana à aliança ficando apenas com o território controlado por Kiev.
“Ninguém nos ofereceu a adesão à NATO para uma parte ou outra da Ucrânia. O facto é que esta é uma solução para travar a fase quente da guerra, uma vez que podemos simplesmente aderir à NATO com a parte da Ucrânia que está sob o nosso controlo", admitiu Zelensky à Sky News.
Na entrevista, o Presidente ucraniano apelou que as negociações para atingir uma trégua devem ser rápidas. Quanto ao território ucraniano ocupado pela Rússia actualmente, Zelensky afirmou que "a Ucrânia pode recuperá-lo de uma forma diplomática".
A intenção da Ucrânia se juntar à NATO é uma vontade antiga e foi tornada mais clara com uma carta a que a Reuters teve acesso enviada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, a pedir que os estados membros da NATO convidem Kiev na próxima semana, durante uma reunião em Bruxelas.
Para o Presidente ucraniano, a chegada de Donald Trump à Casa Branca implica um trabalho de perto de modo a ter no novo Presidente dos EUA "o maior apoiante" da Ucrânia.
"Quero trabalhar com ele directamente porque há diferentes vozes à sua volta. É por isso que não devemos [permitir] que ninguém destrua a nossa comunicação", sublinhou Zelensky à Sky News, acrescentando que tem de "preparar alguns encontros" com o novo Presidente dos EUA, que tomará posse em Janeiro.
Durante a campanha, Trump disse que conseguiria, "em 24 horas", acabar com a guerra na Ucrânia. Já o vice-presidente eleito, J.D. Vance, apresentou um plano em Setembro em que descrevia uma zona desmilitarizada entre a Rússia e a Ucrânia, com os ucranianos a manterem-se fora da NATO.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, entrevistado pelo POLITICO no início desta semana, tinha descartado a possibilidade de assinar um acordo que entregasse território ucraniano e fizesse concessões, descrevendo-o como algo "inconcebível".
"Os russos mantêm o Donbass, mantêm a Crimeia e não permitem adesão à NATO. Zelensky pode assinar? Não pode, por causa da Constituição. E porque será o fim de Zelensky politicamente", disse o ex-ministro, que se demitiu em Setembro deste ano.
À Sky News, o ex-embaixador britânico na Rússia, Tony Brenton, considerou que a Ucrânia está a fazer uma "uma grande concessão" ao afirmar-se disposta a um cessar-fogo nos termos descritos por Zelensky, sublinhando que é uma medida a antecipar a chegada de Trump.
"Ele sabe que Trump está prestes a cair sobre ele e sobre a Rússia", disse Breton, acrescentando que já está a "preparar algo para oferecer a Trump" na missão do Presidente-eleito de por fim à guerra na Ucrânia.
"Putin verá isto como uma concessão de Zelensky", avisou o ex-embaixador, afirmando que o Presidente russo "dirá para si próprio: 'ah, eles estão a sentir-se fracos, posso pressionar para obter mais'".