Cartas ao director
Ministra da Saúde
No seguimento dos supostos erros recentemente ocorridos no INEM com as trágicas consequências que se conhecem e lamentam, era fácil prever que nos dias seguintes iria cair na cabeça da ministra da Saúde uma chuva intensa de drones verbais vindos dos grupos parlamentares. De facto, foi a esse episódio que ontem assistimos no Parlamento e onde algumas vezes as intervenções dos deputados não tiveram a elevação que a dignidade da instituição e a natureza do assunto exigiam. Por sua vez, a ministra mostrou-se firme e tranquila, clara nas explicações e respondeu bem quando a retórica virou boçalidade. Nada surpreendente se nos lembrarmos da maneira airosa e corajosa como esteve à frente do maior hospital nacional.
É do conhecimento geral que a gestão da política de saúde no que respeita ao acesso, prestação de cuidados e respectivos custos e boa qualidade dos recursos humanos é seguramente das mais difíceis, complexas e cheia de riscos na imagem pública de quem exerce tais cargos. Daí, não nos parecer sensato nem justificado pedir a demissão quando está decorrido pouco mais de meio ano de Governo e o executor diz em voz alta a quem o acusa que" não foge, não mente, nem se esconde", o que convenhamos é bem raro no panorama da política nacional.
José Manuel Pavão, Porto
Bens públicos e seus derivados
Quem deveria governar os bens públicos, entregues à sua guarda, não o faz devidamente, só se preocupando com o que lhe dá visibilidade e até acessos a proventos indevidos. É por isso mesmo que a justiça está cada vez mais entupida, com processos com elevados volumes, difíceis de resolução, acabando por prescreverem no tempo, bem como à custa de elevados honorários, outorgados aos advogados, que defendem acerrimamente esses alegados criminosos.
O rol desses graúdos ladrões do país já compõe vários tomos, onde neles se podem ver todas as artimanhas engendradas, a fim de terem deitado as mãos àquilo que não lhes pertencia. Mas falemos agora dos casos fatais acontecidos com a falta do INEM, com a morte de vários idosos, por falta de socorro.
Esta é uma das pontas do icebergue do martírio em que muitos velhos vivem em Portugal. Há sempre dinheiro para tudo o que não é necessário para o dia-a-dia da população, em geral. Para a banca, saqueada pelos próprios administradores e sua comandita, para o desnorte criminoso na TAP, para a Web Summit e outras parecidas alegadas falcatruas, o dinheiro jorra sem cessar. Todavia, para o SNS, INEM, lares de idosos e quejando, nunca há dinheiro. Só algumas "esmolas".
A estes assuntos os políticos não ligam patavina, não defendendo sequer o serviço público e universal de Saúde, em Portugal, pois até têm um serviço privado para os seus trabalhadores: a ADSE.
José Amaral, Vila Nova de Gaia
Resultados das provas de aferição
Na análise aos resultados das provas de aferição, o IAVE ressalva, e bem, que esses resultados “são condicionados por circunstâncias pessoais e contextuais”. Arrisco a incluir aqui o excessivo formalismo da execução das provas, as respostas em formato electrónico, as dificuldades no entendimento das questões, a uniformização das provas para uma diversidade enorme de alunos a nível nacional, o seu estado emocional. Isso afecta muito mais os alunos do 2.º ano por serem submetidos a essas provações numa fase ainda demasiado incipiente do seu desenvolvimento escolar. Aquela ressalva deveria mesmo figurar no título do artigo em vez de “resultados pobres e preocupantes”. Com efeito, aqueles resultados, além de colidirem com a avaliação formativa, não reflectem o árduo e exigente trabalho que se faz em sala de aula, onde é necessário gerir a resistência dos alunos à complexidade dos currículos, a sua heterogeneidade social e de aprendizagem, entre outras contrariedades.
José M. Carvalho, Chaves
Estamos a contribuir para a humilhação da Ucrânia
O tempo passa. As promessas de ajuda são muitas e estão aprovadas, mas, verdade, verdade mesmo, é que só uma pequena parte do que já foi aprovado foi entregue. Os EUA e a Europa estão à espera de quê? Que a Ucrânia seja humilhada e decapitada de uma quantidade significativa do seu território para que este fique na posse da Rússia, invasor sem motivo a não ser o desejo de Putin. Infelizmente para os ucranianos, que têm mostrado ao mundo como se defende um país que se ama, estamos a contribuir para que eles sejam obrigados a aceitar o que o invasor quiser. Esta realidade é chocante e deveria ser objecto de condenação do mundo livre, que, a curto prazo, poderá sofrer na pele a sede de império manifestada por Putin. Já agora, a presença de 10.000 soldados da Coreia do Norte a combater pela Rússia não incomoda ninguém?
Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora