Vinícius Júnior, grande favorito à Bola de Ouro, afinal perdeu para Rodri, contra todas as previsões. O Real Madrid boicotou a cerimónia, em que foram sendo ouvidos gritos de apoio a Vini. Vários jogadores e ex-jogadores expressaram desagrado com o resultado, incluindo Camavinga, que culpou a “política futebolística”. Vini reagiu com a promessa de fazer “10x se for preciso”o que a sua gestão diz referir-se aos seus esforços contra o racismo, que o jogador terá visto como a razão para não ter vencido, pois “o mundo do futebol ainda não está pronto para aceitar um jogador que luta contra o sistema”.
Entretanto, M. Iwanski, o jornalista que votou pela Polónia, revelou que preferiu Rodri pela sua “classe”, pois não está nas redes sociais, andou na faculdade e tem “uma grande dose de humildade e moderação”. Espero que Vini tenha tirado notas. É apagar o Instagram e tirar um curso, para ser o melhor a jogar à bola. Convém ainda que tenha mais humildade. Mais do que tem revelado, por exemplo, com o seu "Instituto Vini Jr.", que lhe valeu há um ano, na mesma gala, o Prémio Sócrates, que distingue o melhor trabalho humanitário desenvolvido por um futebolista.
L. M. Sanz, no Sport, escreveu que Rodri ganhou a “Bola de Ouro dos valores”, o que além de “uma enorme notícia para o futebol”, considera “uma lição para o Vinicius”, que diz ter “muito a aprender”. Sanz fala em “protestos e provocações” e “altos reprováveis”. Mesmo ignorando o inquietante regozijo paternalista, dá vontade de pedir que “diga um”. É que Vini “protesta e age de forma reprovável” sempre assim: no abstracto. Ou a dançar. Uma dança do Vini também é sempre uma afronta, sem que ninguém tenha conseguido, até hoje, explicar porquê. Curiosamente, na gala em questão, brincou-se com Martínez precisamente por ser provocador, enquanto recebia o prémio de melhor guarda-redes. Ter-se-á perdido uma oportunidade para lhe dar uma lição.
Houve ainda R. Lowe, no podcast “It’s called soccer”, que se indignou com a “arrogância ultrajante” de Vini, por ter trazido a família do Brasil e planeado celebrações. Disse ainda que deveria ser desqualificado e que o que fez foi “nojento”. Note-se que Rodri foi filmado a celebrar em Paris, numa festa que — calculo — terá sido improvisada em tempo recorde, já com o troféu no colo. Terá tido a sorte de apanhar os amigos e familiares por lá.
Não há certamente racismo nenhum no tratamento do Vini. É tudo uma questão de arrogância. A arrogância de ter redes sociais. A arrogância de ter sucesso sem ter ido para a faculdade. A arrogância de dançar e reclamar com árbitros. A arrogância de responder quando um estádio inteiro o insulta. A arrogância de planear festejar o que seria um dos maiores feitos da sua carreira. A arrogância de trazer familiares e amigos do Brasil para o partilharem com ele.
Provavelmente, a arrogância de comprar coisas caras para a família, como se apontou ao Sterling. De mudar muito de penteado e usar brincos, como se apontou ao Pogba. De gostar de carros e relógios, como se apontou ao Rashford. E ele que nunca se lembre de cortar buracos nas meias, porque, como poderá conferir com o colega Bellingham, até isso seria arrogante.
No fundo, é a arrogância de se ser negro sem se ser o negro que o sistema aprecia — modesto, discreto, sem ocupar espaço. Como se atreve?