Ausências na Cimeira do Clima: quem arruma a “casa comum”?

Num mundo mais instável, polarizado, mais proteccionista e com mais cépticos (ou até negacionistas) das alterações climáticas a chegar ao poder, é cada vez mais difícil o diálogo.

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Eleições nos EUA, mudanças na Comissão Europeia, crise na Alemanha... realizar-se agora uma Cimeira do Clima não dá jeito nenhum a alguns líderes mundiais, por mais dramático que seja o rasto de destruição que os fenómenos climáticos extremos têm provocado. O ano foi terrível, culminou com as devastadoras cheias de Valência que mataram centenas de pessoas. Mas vários já anunciaram que vão optar por ficar em casa.

Depois da demissão do seu ministro das Finanças, o chanceler alemão, Olaf Scholz, desistiu de ir à COP29, que começa esta segunda-feira em Bacu, no Azerbaijão. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também — está concentrada a preparar o segundo mandato.

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, não vai devido a um traumatismo craniano recente. Os mais altos representantes do Canadá, da China, Índia, África do Sul, Japão, Austrália, estão fora. Isto no ano mais quente de sempre do planeta — com a temperatura média global a poder ficar 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Em 2015, mais de 200 nações comprometeram-se com a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Em 2024 atingimos novos máximos.

Nos EUA, Donald Trump foi reeleito. É o homem que acha que as alterações climáticas são um mito para prejudicar os interesses do país e que quer aumentar a extracção de petróleo. Nem Joe Biden nem Trump vão a Bacu, estão a arrumar a sua casa.

Em 2017, o Presidente francês telefonou a Trump após a eleição surpresa e falou-lhe da necessidade de cumprir o Acordo de Paris. Esta semana, o assunto esteve ausente da conversa que os dois tiveram, segundo o Politico. Emmanuel Macron será outro dos que ficam em casa, por causa das tensões diplomáticas com o Azerbaijão.

Há quem tente relativizar: a lista de ausências (que também inclui Luís Montenegro) na COP29, pode não ter assim tanta importância — as COP já foram mais relevantes, no tempo em que estavam menos dominadas pelos lobbies da indústria do petróleo; os países têm até Fevereiro para definir novas metas de emissões, que é um dos pontos cruciais na luta contra o aquecimento global. E, nesta fase, o mais importante são as propostas que as delegações de negociadores trazem para cima da mesa.

Mas não tenhamos dúvidas: num mundo mais instável, polarizado, mais proteccionista e com mais cépticos, ou até negacionistas, das alterações climáticas a chegar ao poder, é cada vez mais difícil o diálogo à escala global, o mais eficaz para encontrar soluções para a “casa comum”, expressão usada pelo Papa Francisco para se referir ao nosso planeta. A longa lista de ausências em Bacu é só um sinal.

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