Cartas ao director
Não ser Trump não chega
A vitória de Trump não é uma boa notícia e dispenso-me de elencar todas as razões já sobejamente enunciadas. Certamente também não será o fim do mundo, uma vez que ele já lá passou quatro anos e ainda cá estamos com as instituições cá e lá relativamente estáveis. Talvez um dos aspectos não negligenciáveis, a prazo, é a degradação de valores cívicos e éticos que uma liderança destas transmite à sociedade. Já houve no passado outros presidentes de princípios “marginais”, mas com a diferença de que o escondiam ou conseguiram manter escondido. A menos de Nixon e o seu Watergate.
A surpresa quanto à derrota de Kamala virá de quem achava que bastava não ser Trump para reunir um largo e maioritário consenso de “gente boa e luminosa”, garantidamente vencedora. E não foi assim. Kamala foi uma vice-presidente muito pouco luminosa e largos sorrisos “dentífricos” não chegam certamente para ser reconhecida como líder. Enquanto não se encontrar uma terceira via entre o populismo arrogante e boçal e o wokismo arrogado e sofisticado, enquanto as escolhas se mantiverem entre estes dois pólos, receio bem que o povo preferirá a arrogância boçal à arrogância elitista. A “culpa” não é do Trump…
Carlos J.F. Sampaio, Esposende
Lição de pedagogia
A pronta aceitação dos resultados eleitorais, que conferiram uma vitória estrondosa a Trump e aos republicanos, por parte de Biden e de Kamala Harris, veio evidenciar o contraste com o comportamento do vencedor destas eleições, quando há quatro anos saiu vencido e recalcitrante. Esta foi uma atitude que, sendo da praxe, constituiu uma lição de pedagogia democrática que deve ser realçada numa época de ameaça aos valores que enformam a democracia, em particular nesta era “trumpista”.
Temo, porém, que não fosse recebida como tal pelas massas do partido ganhador, pois, durante os quatro anos passados e na própria campanha, Trump sempre se recusou a admitir a vitória de Biden, com aplauso dos seus apoiantes. Porventura, pensarão até que a arrasadora vitória actual dos republicanos é o sinal eloquente e com significado retrospectivo da justiça que lhes assistia há quatro anos. Agora, com unção divina e bênção do céu, traduzida na multiplicação de benesses bolsistas e maior engrandecimento de Musk e Bezos. Vem aí a “época de ouro” e da prometida paz universal.
António Costa, Porto
CGD – um caso escandaloso
Custou-me ler a notícia de ontem no PÚBLICO de que a CGD teve cerca de 1400 milhões de euros de lucros em nove meses... Suponho que irá tentar bater os 2000 milhões no final do ano. Inacreditável. Nunca visto. Como é que o mágico Paulo Macedo consegue isto? Lamento dizer-vos mas é muito simples: 1.º paga miseravelmente aos depositantes; 2.º cobra elevadas taxas de juros àqueles que têm de pedir dinheiro. Acreditem, gerir a CGD (e os bancos em geral) é das coisas mais fáceis que há. Como líder do mercado que é, a CGD faz o que quer, para satisfazer o seu dono, que por acaso é o Estado. Não admira que o Governo esteja a nadar em dinheiro.
Mais um mandato de Paulo Macedo e a CGD paga a 100% o novo aeroporto, o TGV e mais alguma coisa que seja preciso, é só o Governo pedir e consegue-se um lucro ainda maior. É uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário: tira aos necessitados para dar aos poderosos (neste caso o Estado). Mas pior que os 2000 milhões de lucros anuais é o facto de a CGD, ao estabelecer padrões de preço tão desfavoráveis para os pobres clientes, deixar que todos os outros bancos fiquem livres para aplicar a mesma receita – e todos estão a ganhar centenas e centenas de milhões de euros anuais. Quem paga esses lucros fabulosos? Os do costume: nós todos. Pagamos impostos para o Estado e pagamos os lucros absurdos dos bancos. E ainda conseguem dizer em tribunal que não têm políticas concertadas. Quem nos defende?
Fernando Vieira, Lisboa
Ética nas greves à saúde
Não vejo que haja o cumprimento mínimo dos princípios de ética, para não dizer humanismo, em greves feitas por trabalhadores na área da saúde. Seria oportuno que fizessem uma análise à sua própria consciência, quando, com essa iniciativa, contribuem para o prolongamento do sofrimento de uma pessoa. Será que se sentem tranquilos, sabendo que isso é um factor que agrava o sofrimento de alguém? Desafio-os a reflectirem sobre a sua atitude.
Luís Filipe Rodrigues, Santo Tirso