Todos os nomes
É esse o convite que decidimos fazer à nossa sociedade. Que nos mostrem o que estão a fazer as mulheres arquitectas, o que fizeram, porque o fizeram. Que apareçam, que não se acanhem de se promoverem.
Em 1991, o prémio Pritzker foi atribuído a Robert Venturi (1925-2018), deixando de parte a sua co-autora e esposa, Denise Scott Brown (1931), sem qualquer justificação razoável.
Desde então, algumas mulheres têm conquistado o devido reconhecimento pela organização: desde Zaha Hadid (1950-2016); a Kazuyo Sejima (1956), com o seu sócio; também Carme Pigem Barceló (1962), com os seus dois sócios; a dupla irlandesa Yvonne Farrell (1951) e Shelley McNamara (1952); ou Anne Lacaton (1955) com o seu sócio.
Em 46 ocasiões, desde 1979 até agora, houve seis mulheres contempladas por uma das distinções mais cobiçadas da arquitectura. Todos estes seis nomes mencionamos com grande honra, mas maior importância tem apontarmos que, até hoje, ao sétimo nome – Denise – não foi ainda feita justiça nesta lista.
Argumentam várias pessoas que esta questão está sanada.
Argumentam várias pessoas que, se não houve mais distinções, foi por falta de representação das mulheres neste campo, como em tantos outros. Que esta questão já está ultrapassada, pela exibição estatística de estudantes no ensino superior. Estará?
Perante esses argumentos, para uns extremamente válidos, para outros simplesmente românticos, podemos todos convir numa singela conclusão: a estrada foi aberta em terra batida e, por mais que se tenha rasgado caminho, não vamos por isso ausentar-nos da necessidade de continuar e pavimentar, de cuidar que as suas margens se limpem de silvado, ou de estender a rota, ampliando o mapa onde a estrada ainda não tocou.
Perante esta discussão, que deve existir e que deve incluir toda a sociedade, podemos todos observar a paisagem. Reflectir sobre o porquê de certas decisões, certos caminhos, desígnios e desenhos. Todos os nomes. Onde andam eles?
Os nomes das colegas de escola. Das técnicas dentro das autarquias. Das professoras e investigadoras universitárias. Das activistas. Das arquitectas que estão sozinhas, das arquitectas que erguem a sua prática em casal ou sociedades, das arquitectas que estagiam a tactear hipóteses em cenários de consternação e atribulação, das arquitectas que adiam a maternidade ou a rejeitam, das arquitectas que se dedicam à maternidade. Das Arquitectas da nossa Casa.
Todos os nomes.
É esse o convite que decidimos fazer à nossa sociedade. Que nos mostrem o que estão a fazer, o que fizeram, porque o fizeram. Que apareçam, que não se acanhem de se promoverem, de se exibirem. Que não pensem que essa visibilidade é tão só mais uma tarefa, lembrem-se que é crucial para serviço prestado a gerações futuras.
É então assim que, a partir deste sábado o evento e exposição Arquitectas da nossa Casa, organizado pela Secção Regional Centro da Ordem dos Arquitectos, em Coimbra, com o apoio de diversas entidades e organizações, vem convidar todos a edificar uma visibilidade que carece manter e tornar sólida. Para arquitectas pioneiras em Portugal. Para honrar as nossas mães, avós, bisavós e todo um matriarcado que nos antecede e origina, e para erguer os nossos filhos, netos e bisnetos.
Mariana Santos Martins, Cátia Ramos, Cláudia Santos Silva, Liliana Moniz, Rita Coutinho, Sofia Carvalho Araújo - membros do comité organizador do evento «Arquitectas da nossa Casa»