Greenpeace culpa petrolíferas pelos danos causados pelo furacão Milton
Ambientalistas acusam “grandes petrolíferas” de intensificarem o furacão Milton, que afectou a Florida esta quinta-feira, alimentando-o com a “poluição causada por combustíveis fósseis”.
A organização ambientalista Greenpeace culpabiliza as “grandes petrolíferas” pelo “furacão monstruoso” — o Milton —, “sobrealimentado pela poluição causada por combustíveis fósseis”, que atingiu a costa oeste da Florida, nos Estados Unidos (EUA) nesta quarta-feira (madrugada de quinta-feira em Portugal).
“Pela segunda vez, em poucas semanas, vidas serão perdidas e destruídas por mais um furacão, sobrealimentado pelas mudanças climáticas impulsionadas por combustíveis fósseis. No entanto, enquanto milhões de pessoas se debatem com os destroços das suas comunidades, as empresas petrolíferas e de gás responsáveis estão a ganhar milhares de milhões e continuam a extrair cada vez mais combustíveis fósseis que destroem o clima”, afirma John Noël, responsável pela campanha climática da Greenpeace EUA.
Este é o segundo furacão a atingir a Florida em pouco mais quinze dias. O primeiro, Helene, atingiu o Norte do estado, também a partir do Golfo do México, afectando os estados norte americanos da Geórgia, Carolina do Sul e Carolina do Norte.
Estima-se que os prejuízos causados pelo Helene ascendam a 250 mil milhões de dólares (mais de 228 mil milhões de euros). Este cálculo, elaborado pela AccuWeather, inclui os danos nas infra-estruturas, os custos dos cuidados de saúde e as consequências dos cortes de electricidade nas habitações e nas empresas, refere o comunicado da Greenpeace.
A Greenpeace afirma que esta poderá ser a época de furacões mais dispendiosa da história dos EUA. “As pessoas comuns não podem pagar essa factura: com as eleições norte-americanas a poucas semanas de distância, os candidatos presidenciais devem deixar de pedir donativos de campanha às grandes petrolíferas e, em vez disso, obrigá-las a pagar pelos danos climáticos que devastam as nossas comunidades”, aconselha John Noël.
Uma análise elaborada por uma equipa de cientistas da World Weather Attribution, sediada no Imperial College de Londres, no Reino Unido, revelou que as alterações climáticas agravaram a forte precipitação e os ventos gerados pelo furacão Helene. O furacão causou a morte de, pelo menos, 227 pessoas em seis estados dos EUA.
O comunicado refere ainda que, em vez de assumirem a responsabilidade pelo papel central nas alterações climáticas, “as grandes empresas do sector do petróleo e do gás, como a Shell, a Energy Transfer, a ENI e a TotalEnergies, recorreram a processos judiciais de intimidação contra as organizações membros da rede Greenpeace e outras organizações que alertam para a expansão contínua dos combustíveis fósseis”.
A Greenpeace exorta, por fim, os governos a colocarem um ponto final nos subsídios estatais a empresas ligadas à exploração ou distribuição de combustíveis fósseis, obrigando “os grandes poluidores do petróleo e do gás a parar de perfurar [o subsolo] e a começar a pagar pelos danos climáticos que as pessoas enfrentam em todo o mundo”.
A culpa é da crise climática?
Os registos históricos de furacões antecedem as alterações climáticas. Contudo, desde a Revolução Industrial, a humanidade aumentou progressivamente a queima de combustíveis fósseis, e este aumento desenfreado de emissões de dióxido de carbono (além de outros gases com efeito de estufa) alterou profundamente a atmosfera da Terra e, por extensão, o próprio clima.
Os cientistas climáticos alertam há várias décadas para o que está a acontecer agora: com as alterações climáticas, eventos climáticos extremos — como os furacões — tornam-se mais frequentes e intensos.
Os compromissos assumidos no Acordo de Paris, assinado durante a Cimeira do Clima das Nações Unidas em 2015, visam justamente reduzir a utilização de combustíveis fósseis (gás, petróleo e carvão) e, como resultado, as emissões de gases com efeito de estufa.
Sem estes cortes violentos de emissões, os investigadores consideram que não conseguiremos limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima da temperatura média do planeta registada antes da Revolução Industrial. E alertam para as “consequências irreversíveis” de uma ultrapassagem dessa meta climática, mesmo que de forma transitória.