Líbano: pelo menos nove mortos e 2750 feridos na explosão de pagers do Hezbollah

Entre os feridos nas explosões de centenas de pagers estão o embaixador do Irão e alguns líderes do Hezbollah. Movimento xiita e responsáveis libaneses acusam Israel.

Foto
O exterior de um hospital de Beirute depois das explosões Mohamed Azakir / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:16

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Centenas de membros do Hezbollah ficaram feridos depois da explosão dos pagers que os combatentes usam para comunicar, no que está a ser descrito como um ataque lançado por Israel na tarde desta terça-feira. De acordo com o Ministério da Saúde do Líbano, há pelo menos nove mortos (o Hezbollah refere três, incluindo dois dos seus membros e uma menina de dez anos que morreu quando o pager do pai explodiu) e 2750 feridos, entre eles está o embaixador do Irão no país.

Explosões quase simultâneas ocorreram em Beirute, num bairro dos subúrbios da capital libanesa considerado um bastião do movimento xiita apoiado pelo Irão e na província do Monte Líbano, mas também há relatos de membros do Hezbollah feridos em Damasco, a capital da Síria. Segundo a agência Reuters, meia hora depois das primeiras detonações ainda se ouviam explosões em Beirute.

A televisão saudita Alhadath avança que vários líderes de topo do Hezbollah e os seus conselheiros foram feridos. De acordo com a agência de notícias iraniana Mehr, um dos feridos é o embaixador iraniano no Líbano, Mojtaba Amani.

O ministro da Informação libanês, Ziad Makary, citado pela Al-Jazeera, condenou a “agressão criminosa de Israel” contra a soberania do país e disse que os “crimes” cometidos são da “responsabilidade da comunidade internacional”.

Em declarações à Reuters, um líder do Hezbollah disse que se tratou da “maior falha de segurança até à data” desde que o grupo libanês e Israel começaram a atacar-se mutuamente, depois dos brutais ataques do Hamas contra comunidades israelitas e do início da devastadora guerra de Israel contra a Faixa de Gaza, a 7 de Outubro do ano passado.

Num comunicado, o Ministério da Saúde refere “um grande número de feridos” em todo o país e pede aos libaneses que se afastem dos aparelhos de comunicação ligados à Internet. O ministério também apelou aos médicos e enfermeiros que não estejam a trabalhar que se dirijam aos respectivos hospitais e há unidades de saúde a pedir doações de sangue.

Responsáveis de segurança libaneses citados pelo serviço árabe da Sky News e pelo canal Alhadath dizem que Israel conseguiu piratear os pagers usados pelos operacionais do Hebzollah e fazê-los explodir.

Ainda segundo a Reuters, que cita “três fontes de segurança”, os pagers eram de última geração e tinham sido adquiridos recentemente.

O líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, pediu recentemente aos seus combatentes para deixarem de usar smartphones precisamente porque Israel dispõe da tecnologia para os piratear, recorda a correspondente da Al-Jazeera em Beirute, Zeina Khodr. “Por isso, agora recorreram a este sistema de comunicação diferente, utilizando pagers, e parece que foram infiltrados”, disse. Alguns analistas fazem notar que o grupo sempre usou este tipo de aparelhos, precisamente para evitar que as suas comunicações fossem interceptadas.

Um responsável do movimento disse que as explosões foram o resultado de “uma operação de segurança que visou os dispositivos” e que “o inimigo está por trás deste incidente de segurança”, escreve o diário israelita The Times of Israel. O mesmo responsável explicou que os novos pagers do Hezbollah têm baterias de lítio, que terão explodido.

De acordo com outro funcionário, citado pelo jornal The Wall Street Journal, alguns membros do Hezbollah sentiram os aparelhos a aquecer e desfizeram-se deles antes das explosões.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) avisaram as autoridades do Norte do país sobre “a possibilidade de uma escalada” na sequência das explosões no Líbano, mas ainda não foram dadas indicações específicas aos civis. Na cidade de Shlomi, o chefe do conselho local adiantou-se e pediu aos residentes para se manterem junto dos abrigos “devido à situação de segurança excepcional que se vive”.

Ao início do dia, o Governo de Benjamin Netanyahu tinha actualizado os objectivos oficiais da guerra para incluir o regresso a casa das 60 mil pessoas obrigadas a deixar as suas casas por causa da violência no Norte, acrescentando-o à destruição do Hamas e ao regresso dos reféns.

Horas antes deste ataque coordenado contra o Hezbollah, o Shin Bet (agência de segurança interna) disse ter evitado uma tentativa do movimento libanês de assassinar um antigo alto funcionário da segurança israelita, com uma bomba detonada à distância, um ataque que estaria previsto para os próximos dias.

Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, mostrou-se preocupado com mais este desenvolvimento no Médio Oriente:

"Posso dizer-vos que estes desenvolvimentos são extremamente preocupantes, especialmente tendo em conta que isto está a acontecer num contexto que é extremamente volátil", afirmou o porta-voz.

Sugerir correcção
Ler 98 comentários