Cartas ao director

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Miranda do Douro

Reinava ainda em Lisboa o senhor D. Luís, homem amante das artes e música e também dos prazeres da noite, quando um velho coronel dos seus exércitos, em viagem para Bragança num dia de rigoroso e frio Inverno que nem a comodidade da diligencia conseguia suavizar, já cansado e ensonado, desabafou assim para o seu ajudante de campo: “É tão longe que o senhor D. Luís podia dar isto aos espanhóis!”

Consta este registo dum livro de Santana Dionísio sobre Trás-os-Montes, que eu aproveito para que os ventos não levem para o vazio o relato duma simpática jornalista das nossas televisões que disse a quem via e ouvia que a bonita cidade de Miranda do Douro era muito longe!

Estou convicto de que não foi só a lonjura, agravada pela muralha fluvial do Douro e das serranias do Marão e Alvão, que ditou o esquecimento e, em consequência, o atraso de desenvolvimento da região. Foi a miopia e a incompetência dos dirigentes monárquicos e republicanos que, durante séculos, deixaram os transmontanos à sua sorte, há bem poucos anos minorada pela abertura de vias rodoviárias modernas, antecedida pela destruição insensata de todos os ramais ferroviários.

Sabemos bem que o desenvolvimento do interior é assunto tão complexo quanto apetitoso para políticos que, em tempos de eleições, não viajando já em incómodas carruagens puxadas a cavalos, vêm à região prometer aquilo que não cumprem. É uma espécie de desígnio a que durante duas décadas, no âmbito das Comunidades Intermunicipais, assisti, entre deliciado e desconfiado perante as apresentações, quais miragens das missões de valorização do interior que todas ficaram pelo caminho!

José Manuel Pavão, Porto

Sobre o português do Brasil

Li nos meios de comunicação que o linguista Fernando Venâncio sugere que o português do Brasil se passe a chamar “brasileiro”. Sendo também eu linguista, conheço bem o Fernando Venâncio, bom colega e amigo. Contudo, não posso aceitar a designação de “brasileiro” para o português falado no Brasil. Seria preferível dizer “português do Brasil” ou “português brasileiro”. Quanto ao português de Portugal, a expressão “português europeu” parece-me acertada.

Assentemos em “português brasileiro” e “português europeu”. Não vejo a necessidade de introduzir a designação “brasileiro”. Compreendo que o português falado no Brasil se tenha afastado muito desde o século XVII até hoje. Mas não estamos perante duas línguas! Vejamos: em Portugal, temos uma colónia de brasileiros a viver e a trabalhar aqui porque precisamente compreendem o português europeu e são compreendidos pelos portugueses. Como os linguistas sabem, a inteligibilidade mútua é um critério fundamental para diferençar dialectos e línguas. Aceitemos que estamos perante uma língua, o português, que tem (pelo menos) duas variantes: o português europeu e o português brasileiro.

Temos assim dois portugueses. Como também há o inglês do Reino Unido e o inglês dos EUA. Ao inglês dos EUA também se pode chamar “inglês americano”. Reitero a ideia de dois portugueses: o português europeu e o português brasileiro.

José Pinto de Lima, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras

ULS universitárias

Potencialmente é uma boa ideia distinguir essas ULS, desde que os “dinossauros” não dominem os resultados. Confio que o Prof. Adalberto Fernandes, que lidera a Comissão Técnica Independente, tomará medidas que encorajem as escolas médicas tradicionais a modernizarem-se. A tendência nas melhores escolas do globo (Canadá, Austrália, Holanda, Reino Unido, Irlanda, Dinamarca, etc.) é transferir muito da aprendizagem clínica básica dos hospitais para a medicina dos cuidados primários (Medicina Geral e Familiar, MGF). Espero que esse facto não passe despercebido ao líder da comissão. A escola médica da Universidade do Algarve tem sido, desde 2009, líder na Europa em atribuir um papel central à MGF e o Prof. Adalberto Fernandes sabe-o bem. Nem é preciso ir ao estrangeiro buscar inspiração…

José Ponte, Londres

Netanyahu é tão criminoso como o Hamas

Não podemos continuar calados e quase indiferentes. Após os crimes horrorosos praticados pelo Hamas em 7 de Outubro de 2023, Netanyahu é, neste momento, tão criminoso como aquele movimento terrorista, porque continua a atacar tudo e todos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, matando, matando e matando cada vez mais. A surdez e a inacção do mundo livre preocupam-me. Por que razão a Israel continua tudo a ser perdoado?

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

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