Investimentos brasileiros se espalham pelo Algarve, Alentejo e Norte de Portugal

Sondagem da ApexBrasil e replicada pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira aponta que seis em cada dez empresários do Brasil que miram mercado internacional têm interesse por Portugal.

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Seis em cada 10 empresários brasileiros que pensam em investir no exterior têm sondado Portugal Antonio Bronic/ Reuters
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Portugal ultrapassou os Estados Unidos nas consultas feitas por empresários brasileiros sobre oportunidades de negócios no mercado internacional. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, Otacílio Soares, diz que, até 2021, 80% dos empreendedores que pensavam em ampliar seus negócios para fora do Brasil miravam os Estados Unidos. De 2022 para cá, 60% das sondagens passaram a olhar para o território luso, conforme levantamento realizado pela ApexBrasil. “Foi uma virada importante, o que, na minha avaliação, terá reflexos mais à frente na balança comercial entre os dois países. Não será um movimento rápido, mas será consistente”, afirma.

Soares conta que a Câmara que ele preside tem recebido pelo menos uma consulta por semana de empresários brasileiros indagando sobre oportunidades de negócios em Portugal. Mas também o interesse é crescente do lado português, com ao menos uma sondagem por mês. “Creio que, a partir dessas consultas, mais empresas brasileiras vão se instalar em Portugal e os fornecedores portugueses tenderão a se interessar pelo mercado brasileiro. Será uma via de mão dupla, não tenho dúvida”, diz. Ele acrescenta que, neste ano, mais duas companhias brasileiras fixaram raízes em Portugal e uma está em processo final de instalação. “Estamos falando de três setores: alimentos, mobiliário e de reciclagem”, frisa.

O executivo ressalta que ainda não é possível cravar o total dos investimentos brasileiros já realizados neste ano em Portugal por meio da Câmara. Mas ele estima algo entre 11 milhões e 12 milhões de euros (R$ 66 milhões e R$ 72 milhões). “Temos visto investimentos bem diversificados nos últimos anos, em setores como móveis, imobiliário, saúde, beleza, moda e alimentação”, lista. No ano passado, os empresários brasileiros destinaram 35 milhões de euros (R$ 210 milhões) com conhecimento da entidade que os representa. “O mais interessante é que os investimentos não estão concentrados apenas em Lisboa, estão distribuídos pelo Norte, pelo Algarve e pelo Alentejo”, detalha.

Minas lidera investimentos

Curiosamente, destaca Soares, a fila de investimentos em terras lusitanas está sendo puxada por Minas Gerais. “Eu sou um exemplo desse movimento”, assinala. Mineiro, ele aplicou 10 milhões de euros (R$ 60 milhões) no plantio de uvas e na produção e comercialização de vinhos da marca Domínio do Açor. “Mas também tenho negócios na construção civil e no ramo de storage, espaços em que pessoas e empresas podem guardar o que quiserem. Particularmente, posso dizer que estamos sendo muito bem tratados em Portugal. Os investidores valorizam essa receptividade. Estamos gerando empregos e renda no país”, diz.

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Otacílio Soares, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, investiu 10 milhões de euros no plantio de uva e na produção e comercialização de vinhos Arquivo pessoal

Para o executivo, alguns empresários brasileiros, que têm à disposição um mercado interno de mais de 200 milhões de pessoas, podem não entender a atratividade do mercado português, de pouco mais de 10 milhões de cidadãos. “Mas Portugal está inserido na União Europeia, com aproximadamente 550 milhões de consumidores. Todo investimento deve levar em conta essa dimensão”, afirma. Ele lembra, ainda, que as empresas que se instalam em Portugal recebem incentivos a fundo perdido da UE, que reduzem em até 30% os custos dos investimentos. Mais: "há redução de 1% ao ano nos impostos ao longo de três anos”, complementa.

O entendimento de Soares é o de que, com o aumento dos investimentos de ambos os lados, o perfil da corrente de comércio entre Brasil e Portugal tende a se diversificar. Atualmente, do lado do Brasil, o grosso das exportações para o território luso é petróleo. Já do lado português, as vendas para os brasileiros se concentram em azeite e vinho. “Estamos falando de dois países que vão completar 200 anos de relações diplomáticas no próximo ano. Essa boa relação deve se refletir também no comércio”, acredita. Há que se ressaltar, porém, que a economia portuguesa só ganhou pujança a partir da entrada do país na União Europeia, em 1986. Por ano, o Brasil tem exportado cerca de US$ 4 bilhões para Portugal e importado US$ 400 milhões.

Premiação

Dentro das estratégias para incrementar as relações entre Brasil e Portugal, a Câmara lançou um prêmio com o intuito de dar visibilidade aos empresários que têm levado seus negócios para os dois lados do Atlântico e para aqueles que, independentemente da área em que atuam, vêm trabalhando em favor desse movimento. O prêmio Aproxima Portugal-Brasil será entregue, em 12 de setembro, a personalidades distribuídas em 12 categorias, que incluem empreendedorismo feminino, cultura e educação, responsabilidade social e ambiental e diplomacia e relações internacionais.

“Esse prêmio, referente a 2023, valoriza profissionais que, pela sua visão estratégica, se afirmam como agentes de cooperação e estreitamento dos laços entre Brasil e Portugal”, diz Soares. Os laureados são o estado de Minas Gerais, Jorge de Melo (Sovena), Zeferino Ferreira Costa (Instituto Pernambuco), Rijarda Aristóteles (Clube Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa), Nuno Guedes Vaz Pires (Blue Travel, Gula e Revista de Vinhos), Paula Amorim (Galp), Francisco Gomes Neto (OGMA Grupo Embraer), Jorge Rebelo de Almeida (Vila Galé), Rubens Menin (Menin Estates), Miguel Setas (Grupo CCR), Luís Faro Ramos (embaixador de Portugal no Brasil), Raimundo Carreiro (embaixador do Brasil em Portugal) e Marco Stefanini (Grupo Stefanini).

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