Demolição do Bar do Fôjo suspensa após tribunal aceitar providência cautelar
Procedimento cautelar foi interposto na semana passada pelos herdeiros do fundador do bar de Fão, Esposende, que contestam decisão da APA e da autarquia em demolir a estrutura construída há 50 anos.
Os trabalhos de demolição do Bar do Fôjo, em Fão, Esposende, iam continuar, mas as máquinas já não chegaram a aquecer. Uma semana depois de ter começado a obra preliminar, fica suspenso o desmantelamento da estrutura. Nesta segunda-feira de manhã, a equipa de demolição estava no local, junto à margem esquerda do Cávado, mas foi alertada de que não podia continuar a trabalhar pelas autoridades e familiares de Sérgio do “Fôjo” (1948-2019), que abriu o estabelecimento em 1974, em Domínio Público Hídrico (DPH). Pouco depois, foi o tribunal que reforçou que, por agora, a estrutura não vai ser derrubada. Na última quinta-feira, os herdeiros interpuseram uma providência cautelar para impedirem que o edifício vá abaixo. No dia seguinte, o Tribunal Administrativo de Braga aceitou o procedimento cautelar e os trabalhos pararam por tempo indeterminado.
Na semana passada, tanto a APA - Agência Portuguesa do Ambiente, que tutela o DPH, como a Câmara de Esposende, com quem foi assinado um protocolo para que os trabalhos de demolição orçados em 50 mil euros (valor que será devolvido pela APA à autarquia) fossem adjudicados, garantiam que o edifício será demolido porque estava em Domínio Público Hídrico e por questões de insalubridade.
Agora, ao PÚBLICO, o advogado dos herdeiros, Joel Duarte, que sublinha que foi dada autorização ao bar para funcionar, dá conta, por email, de que “a APA e a Câmara Municipal de Esposende ficam proibidas de continuar a demolição do Bar do Fôjo, até que o processo no Tribunal Administrativo de Braga seja julgado e proferida sentença com trânsito em julgado”. Betânia Cardoso e Mónica Cardoso, filhas de Sérgio do Fôjo, que estiveram de manhã, “perto das 8h”, junto ao bar, confirmam que os trabalhos não continuaram após terem falado com os responsáveis pela obra.
O PÚBLICO perguntou à APA e à autarquia, desde esta segunda-feira presidida por Guilherme Emílio (PSD), que substituiu Benjamim Pereira, agora presidente da IHRU - Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, se contestaram ou vão contestar a providência cautelar. Perguntou ainda que impacto financeiro terá este impasse. Mas não chegou resposta.
Versões diferentes
O Bar do Fôjo, 50 anos depois de ter começado a funcionar, está em processo de demolição. Em 2015 já tinha chegado um aviso ao estabelecimento, dando conta de que o estabelecimento seria desmantelado. Na altura, após mobilização da população, o bar acabou por continuar aberto, até o proprietário morrer em 2019. Pouco tempo depois, entraram em vigor as restrições impostas pelo Governo na sequência da pandemia e o bar nunca mais abriu.
Em cima da mesa estava a possibilidade de a câmara fazer perdurar o legado de Sérgio do “Fôjo”, um pescador, poeta, músico e filósofo popular. A família dizia na semana passada que a autarquia se tinha comprometido a mostrar-lhes uma maqueta para uma nova versão do Fôjo, reabilitado, e sugerido que fosse feita uma estátua e escrita uma biografia desta personalidade da região. Benjamim Pereira, nessa altura ainda presidente da câmara, confirmava apenas que se tinha falado de uma biografia, de uma estátua e da possibilidade de se continuar com uma festa que era organizada pelo Fôjo. E que não se avançou para isso porque os familiares recusaram.
Os herdeiros diziam não ter sido assim. Betânia Cardoso, filha de Sérgio do “Fôjo”, afirmava que recusaram por nunca lhes ter sido apresentada uma maqueta para uma nova versão do bar e que apenas não concordaram com os moldes em como a biografia e a estátua seriam realizadas.