Cartas ao director
Excertos de cartas dos leitores enviadas ao director do PÚBLICO.
Pela aragem...
Pela aragem se vê quem vai na carruagem, dizia o meu pai citando o meu avô. Pois agora a carruagem da TAP passou mais uma vez, e com o relatório da IGF ficamos a saber que, investindo apenas 10 milhões, um espertalhão ficou dono de uma companhia aérea inteira, quando só um avião como o A330 Neo pode custar entre 250 e 290 milhões. O truque envolveu um empréstimo de 226 milhões da Airbus, que exigiu como contrapartida a compra de 53 aviões de médio curso.
Tudo isto só foi possível com a passividade do Estado, porque uma senhora chamada Maria Luís Albuquerque, aproveitando a aflição do Estado e a sombra protectora da troika, com o pretexto da necessidade de o país receber dinheiro, foi conivente da negociata de mais uma empresa estratégica. Entretanto, e apesar das dificuldades da TAP e do país, encontraram uma forma de entregar por baixo do tapete fiscal quatro milhões aos administradores envolvidos no ruinoso negócio.
Para tornar mais preocupante a situação, Montenegro veio dizer que já sabia do negócio esclarecido pela IGF, o que não o impediu de nomear para ministro Miguel Pinto Luz, também envolvido na parte final do negócio, na altura como secretário de Estado de um governo já de saída, e Maria Luís Albuquerque, então Ministra da Finanças, como nossa comissária em Bruxelas.
Sabia, e achou bem, pelos vistos; o que nos remete para outro ditado sobre pestilências: algo está podre no reino da Dinamarca.
José Cavalheiro
Residência permanente kafkiana
O meu título de residência (permanente) caducou hoje. As renovações são feitas pelo Instituto de Registos e do Notariado (IRN). Só podem ser feitas por agendamento prévio. Não é possível agendar. O contacto deveria ser feito pelos serviços. Nunca fui contactada.
Já enviei vários emails para o contacto do IRN que consta na página (siags5@irn.mj.pt). Sem resposta. Já tentei ir à loja do cidadão. Só atendem quem tiver marcação feita por eles.
Neste momento, bancos em que tenho conta pedem-me a renovação do documento caducado.
A partir de hoje, se eu viajar para fora do país não poderei voltar: as companhias de aviação têm instruções para não deixar embarcar para Portugal passageiros que não tenham bilhete de volta ou título de residência válido.
Recebi um convite para falar num congresso internacional fora da UE... Não sei se posso aceitar.
Isabel Salgado Labouriau, Porto
Comparar o incomparável
O Sr. António Lamas escreveu uma carta para o PÚBLICO (pretérito dia 3), intitulada “E os Euromilhões do Schmidt?”. Nessa carta, o que fica patente é que o Sr. A. Lamas acaba por defender o vencimento, as benesses e as regalias que irá auferir a Sr.ª Maria Luís Albuquerque como comissária europeia e traz à colação, por destituída e desfasada comparação, o “Euromilhões” do Sr. Schmidt.
Ora, não se pode comparar o vencimento dos treinadores de futebol das grandes equipas a nível europeu — neste caso, os milhões que o Sr. Schmidt, eventualmente, poderá receber se for despedido do Benfica — com o vencimento dos políticos, por óbvias razões.
Na parte final da sua carta, o Sr. A. Lamas escreveu de forma descontextualizada o seguinte: “Ainda há quem não tenha compreendido que é preciso acabar com os pobres, como respondeu Olof Palme ao disparate de Otelo, que queria acabar com os ricos.” Mas, permita-se-me a observação: o que tem que ver este último comentário com as considerações que expendeu na sua carta? Não o conheço para o Sr. Lamas me tratar por “leitor Miguéis”. Já reparou que se eu o tratasse por “leitor Lamas” seria uma deselegância da minha parte? Não acha?
António Cândido Miguéis, Vila Real
O “escândalo TAP”
Socorro, escândalo, crime de lesa-TAP, que é como quem diz, crime de lesa-pátria, a TAP foi vendida a privados, essa malandragem, numa operação financeira onde estes não meteram dinheiro seu e ainda receberam algum quando o Estado a “reconquistou” para “as nossas cores”. Levantou-se um coro de críticas, gritos e lágrimas por terem assim “vendido” a nossa “pérola” de transporte aéreo a quem, ainda por cima, não meteu um cêntimo dos seus bolsos.
Porém — é bom lembrar que quase sempre há um porém —, já se lembraram de fazer as contas, que até não são difíceis de fazer, de quanto a TAP custou à pátria (a diferença entre despesa e receita a preços actualizados a esta data), ou seja, a nós todos, desde Abril de 1974 até à data daquela venda e quanto nos custou (de novo, a diferença entre despesa e receita a preços actualizados a esta data), qual era o seu valor (receitas, despesas, frota, know-how, mercados, goodwill, etc.), em ambos os momentos?
Se não fizeram, façam, publiquem os valores a que chegam e só depois comentem e critiquem. Mas pensem também porque é que só agora a TAP começa a dar lucros naquela actividade — transporte aéreo comercial — tão concorrencial e difícil de gerir.
Jorge Mónica, Parede