Cartas ao director
Excertos das cartas dos leitores enviadas ao director do jornal.
A grande maioria dos países da União Europeia tem um período para a IVG muito mais alargado do que em Portugal, que só é de dez semanas. Assim, em condições ditas normais, o prazo para realização do aborto deveria passar de imediato das dez para as 14 semanas. E mantém-se algo de muito importante: ninguém é obrigado a fazer um aborto, é de livre escolha, é pessoal. E o país é laico, logo, não há que haver supostamente compromissos religiosos, como havia antes do 25 de Abril.
Mas tem havido alguns entraves para quem quer realizar a IVG, num país em que tal é permitido desde 2007. Dificuldades em realizá-lo em tempo, só as tais dez semanas, que, face aos entraves, é pouco. Como é evidente, as direitas querem paulatinamente acabar com esse direito. E como é mais do que evidente, que não vai querer que se mexa no que está e como está. Antes pelo contrário. O PSD tende, menos de metade, a ser antiaborto, o Chega, CDS e IL são antiaborto, pelo que, hoje, não só vai ser muito difícil aumentar o tempo permitido para fazer IVG como tende a encolher-se das actuais dez semanas, para menos. Até a Iniciativa Liberal está com o Chega e o CDS para ir acabando com a legalização do aborto. Ou não.
Augusto Küttner, Porto
TAP, os enredos desmontados
Li hoje com bastante agrado o artigo do actual cronista Pedro Adão e Silva sobre o tema TAP e dos verdadeiros enredos não revelados até à data e agora desmontados.
Não obstante, continuo intrigado por que não há jornalista, comentador ou político dos que são convidados e considerados como especialistas que venha explicar ao público em geral por que é que a TAP tem de ser privatizada e por que é que a maior exportadora nacional, com aviões sempre cheios, dava prejuízo. Independentemente das verdadeiras trapalhadas denunciadas pela IGF, agora com lucros acumulados é que é preciso vender?
Expliquem! Por favor, tratem-nos como gente capaz de pensar e não como broncos.
J. E. Coutinho Duarte, Lisboa
O país à beira de eleições
Julgo que o país vai para eleições. Se não, vejamos: a Educação não tem professores, a Saúde não tem médicos, a secretaria-geral do MAI é assaltada, descobre-se o processo da venda da TAP, helicópteros caem e o Benfica está como está! Isto só se resolve com eleições, diz o povo, mesmo indo contra a vontade do Presidente, que gostaria de terminar o mandato como seu partido instalado no poder.
Ricardo Charters d’Azevedo, S. Pedro do Estoril
Chorar ou não, eis a questão
A magnífica crónica da Alexandra Lucas Coelho no PÚBLICO de 24 de Agosto é um grito de alma sobre os efeitos dramáticos do conflito israelo-palestiniano, a par de uma lúcida análise sobre o posicionamento hipócrita da classe política americana, com menosprezo da tragédia humana de que todos somos testemunhas, como diz a jornalista.
Diariamente as televisões mostram-nos os crimes sobre pessoas inocentes que continuam indefesas à mercê dos bombardeamentos das suas habitações, escolas, hospitais e locais de trabalho.
Para os autores materiais e morais desses crimes, qualquer pretexto serve (o direito de defesa contra organizações políticas adversárias ou a possível presença de "terroristas" escondidos no seu seio, etc.) e os danos colaterais infligidos às populações de nada valem no discurso oficial em que a morte de um "terrorista" justifica o ataque a escolas provocando a morte de dezenas de crianças, ou a hospitais com a morte de centenas de doentes, etc..
Tudo isto é motivo bastante para todos nós chorarmos e não só a Alexandra.
É certo que nada disto é novo na história da Humanidade, mas, para muitos de nós, depois de tantos séculos de desenvolvimento económico, social e político (igualdade de género, reconhecimento internacional dos direitos políticos, mediação dos grandes organismos internações, etc.) tal não parecia possível devido à resistência cultural dos povos e à memória trágica dos grandes conflitos mundiais.
Infelizmente, a educação não privilegia o estudo da História, na perspectiva da paz e da cooperação, mas na da competição permanente entre pessoas, empresas e nações, e a memória das tragédias perde-se no tempo.
Na falta de uma base histórica e cultural de resistência à política dos interesses e da força, as populações são facilmente induzidas a aceitar soluções políticas de destruição dos "inimigos" (?) e a tolerar os abusos, e mesmo os crimes de guerra, praticados pelos seus dirigentes, que exploram conflitos religiosos seculares, cujos guias espirituais, em nome do seu Deus "bom e misericordioso", se auto-excluem, criando dificuldades irracionais e, por isso, inultrapassáveis, à Paz e ao Amor que todos desejam.
Mas nós, como diria a nossa Sophia, "vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar".
Nobre Ferreira, Lisboa