Pressionada pelos ratings, França prepara novos cortes no orçamento
Governo francês diz que está já a preparar cortes de 12 mil milhões de euros no orçamento de 2025, numa tentativa de mostrar serviço à Standard & Poor’s.
Depois de défices de 4,9% este ano e de 4,4% no próximo, o governo francês está já a preparar os cortes de despesas que terá de efectuar em 2025 para trazer o resultado orçamental para um nível mais próximo daquilo que exigem as regras europeias. Dar um sinal positivo à Standard & Poor’s, que no primeiro dia de Dezembro decide sobre o rating francês, é um dos objectivos da iniciativa do executivo.
Em declarações publicadas na edição de domingo do jornal La Tribune, o ministro delegado para as Contas Públicas, Thomas Cazenave (que trabalha sob a tutela do ministro da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire) revelou que, com uma antecipação de um trimestre em relação ao que é normal, o governo liderado por Élisabeth Borne está já a preparar as medidas que irá tomar em 2025 para garantir que são conseguidas poupanças adicionais de 12 mil milhões de euros que contribuam para trazer o défice público em 2025 até à meta de 3,7%.
Com este avanço extraordinário na preparação do orçamento para 2025, aquilo que o executivo tenta fazer é tornar mais credível o cumprimento do objectivo de trazer o défice público francês para um valor abaixo dos 3% do PIB em 2027, demonstrando que as finanças públicas do país, que registam neste momento uma dívida pública próxima dos 110% do PIB, vão entrar num caminho de consolidação progressiva, invertendo a tendência de défice altos e dívida crescente dos últimos anos.
Há uma explicação para que os membros do executivo se estejam a esforçar tanto para mostrar agora que se está a fazer um esforço adicional para trazer o défice para baixo. No dia 1 de Dezembro, a Standard & Poor’s irá decidir se mantém o rating “AA” que atribui ao país ou se o baixa. Esta agência de notação financeira colocou, logo no início deste ano, o rating francês sob perspectiva “negativa”, algo que constitui uma espécie de cartão amarelo ao país, ao qual, caso nada seja feita, se pode seguir um cartão vermelho.
Aquilo que o Governo francês decidiu fazer é, depois de apresentar um Orçamento do Estado para 2024 com poupanças de 16 mil milhões de euros, preparar já novos cortes para 2025.
Vendas de imobiliário para gerar poupanças
Nas suas declarações ao jornal La Tribune, Thomas Cazenave diz que o governo pretende reduzir o espaço total ocupado pelos serviços público em 25%, gerando desta forma poupanças e permitindo que sejam feitas vendas de imobiliário pelo Estado. “Há um potencial real para poupanças nesta área, em particular tendo em conta as novas maneiras de trabalhar que agora existem”, afirmou.
Outro foco do Governo é conseguir poupanças ao nível do subsídio de desemprego, com Cazenave a assumir que “todos os mecanismos que alimentam o desemprego na população mais velha têm de ser reavaliados”.
Uma coisa é certa: o tempo em que o Estado acudiu para ajudar as famílias e as empresas a lidar com a pandemia e com a escalada da inflação, garantem os responsáveis do Governo francês, terminou. “Estamos num novo mundo em que o dinheiro está caro e as taxas de juro estão elevadas”, dizem.
Neste momento, a taxa de juro a que o Estado francês se consegue financiar nos mercados a um prazo de 10 anos está, de acordo com os dados fornecidos pela Reuters, nos 3,155%. É um valor que fica apenas ligeiramente abaixo da taxa de juro de 3,246% registados na dívida portuguesa a 10 anos, numa altura em que ainda se espera o efeito nos mercados da subida do rating realizada pela agência de notação financeira Moody's esta sexta-feira.